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Inibidores da PCSK9 reduzem necessidade de revascularização?
Escrito por
Remo Holanda
Publicado em
27/1/2021
Há muito tempo se sabe que a terapia de redução de LDL com estatinas é comprovadamente eficaz. Mais precisamente, para cada 40 mg/dL de redução de LDL, existe uma redução de eventos cardiovasculares (morte cardiovascular, infarto, AVC ou necessidade de revascularização) de 20%. Recentemente, a chegada dos inibidores de PCSK-9 mostrou que essa redução persiste mesmo quando se alcançam níveis tão baixos quanto 30-40 mg/dL de LDL com esta nova classe de medicamentos. Será que esta redução ultra-intensiva de LDL poderia reduzir também a carga de placa e complexidade da doença coronária?
Em artigo recentemente publicado no Journal of the American College of Cardiology, Oyama, Furtado e colaboradores procuram desvendar esta questão. Foram analisados mais de 1700 procedimentos de revascularização, em cerca de 27 mil pacientes incluídos no estudo FOURIER, que randomizou pacientes com doença aterosclerótica para evolocumab versus placebo. Todos os pacientes deveriam estar em uso de estatina ou outras terapias redutoras de LDL na dose máxima tolerada. O evolocumab reduziu as revascularizações de alta complexidade (isto é, as angioplastias com múltiplos stents, de bifurcação, de múltiplos vasos, com tamanho total de stents > 60 mm, ou revascularizações cirúrgicas) em 29%, havendo 33% de redução na necessidade de revascularização cirúrgica e 24% de angioplastias de alta complexidade. Tais efeitos foram ainda mais evidentes após 1 ano de tratamento, 36%. Pacientes tratados com evolocumab também tendiam a ter menos complicações em procedimentos de angioplastia ao longo do estudo.
O que estes resultados significam para a nossa prática? A redução de LDL é uma das metas principais no tratamento em pacientes coronariopatas. Idealmente, estes pacientes devem ser manejados com terapia de estatinas em alta intensidade, visando a uma meta de LDL menor do que 50-55 mg/dL, segundo diretrizes mais recentes. Com este estudo, o benefício da redução de LDL estende-se também a uma potencial redução de placa e complexidade de lesões coronárias, possibilitando a menor necessidade de novas intervenções e, com isso, melhor qualidade de vida e menor impacto ao sistema de saúde.
Nota do editor (Eduardo Lapa): parabenizamos nosso colaborador Remo Furtado por mais uma publicação internacional.