Guideline ESC: terapia hipoglicemiante e doença cardiovascular aterosclerótica

Compartilhe

O diabetes mellitus tipo 2 é comum entre pacientes com doença cardiovascular aterosclerótica (ASCVD). Mas, o inverso também é verdadeiro: ASCVD é comum em pacientes com DM2. Dadas estas relações, é fundamental considerar a presença de DM2 ao decidir estratégias para mitigar o risco cardiovascular. Diante disso, é imperativo que o primeiro passo nesse processo seja rastrear todos os pacientes com DCV para DM2. E, estando diante de um paciente com DM2, deve-se dar preferência ao uso de medicamentos hipoglicemiantes selecionados para reduzir o risco CV, independentemente do status de controle glicêmico.

No mês de agosto, a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) publicou um novo guideline com recomendações para manejo de doenças cardiovasculares em pacientes com diabetes mellitus. A seguir, temos as principais recomendações do ESC quanto à prescrição de antidiabéticos para pacientes com DM2 e ASCVD visando reduzir risco cardiovascular:

1. Recomenda-se priorizar o uso de agentes hipoglicemiantes com benefícios CV comprovados seguidos de agentes com segurança CV comprovada em detrimento de agentes sem benefício CV comprovado ou segurança CV comprovada;

2. Os inibidores do SGLT2 com benefício CV comprovado são recomendados em pacientes com DM2 e DCV para reduzir eventos, independentemente do valor basal ou alvo de HbA1c e independente do uso concomitante de outros medicamentos hipoglicemiantes;

3. Agonistas de receptor de GLP-1 com benefício CV comprovado são recomendados em pacientes com DM2 e DCV para reduzir eventos CV, independentemente do valor basal ou alvo de HbA1c e do uso concomitante de outros medicamentos hipoglicemiantes;

4. Se for necessário controle adicional da glicemia, a metformina deve ser considerada.

5. Se for necessário controle adicional da glicose, pioglitazona pode ser considerada em pacientes com DM2 e ASCVD, desde que não apresentem insuficiência cardíaca.

A principal novidade dentre essas recomendações é o papel ocupado pela pioglitazona atualmente. Vale a pena lembrar que no estudo PROactive (Prospective Pioglitazone Clinical Trial in Macrovascular Events) que avaliou os efeitos CV da pioglitazona versus placebo, não houve significância estatística para o seu desfecho primário composto de morte por todas as causas, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, angina instável, revascularização coronariana ou periférica e amputação (HR 0,90; IC 95%, 0,80–1,02). No entanto, em relação ao desfecho secundário que avaliou o desfecho composto de morte cardiovascular, infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral, houve uma redução nominalmente significativa de 16% do risco relativo (RR) (HR 0,84; IC 95%, 0,72–0,98). Sendo assim, é razoável considerar o uso de pioglitazona para mitigar o risco de DCV aterosclerótica em pacientes com DM2 e ASCVD.

Referência:

Nikolaus Marx, Massimo Federici, Katharina Schütt, Dirk Müller-Wieland, Ramzi A Ajjan, Manuel J Antunes, Ruxandra M Christodorescu, Carolyn Crawford, Emanuele Di Angelantonio, Björn Eliasson, Christine Espinola-Klein, Laurent Fauchier, Martin Halle, William G Herrington, Alexandra Kautzky-Willer, Ekaterini Lambrinou, Maciej Lesiak, Maddalena Lettino, Darren K McGuire, Wilfried Mullens, Bianca Rocca, Naveed Sattar, ESC Scientific Document Group , 2023 ESC Guidelines for the management of cardiovascular disease in patients with diabetes: Developed by the task force on the management of cardiovascular disease in patients with diabetes of the European Society of Cardiology (ESC), European Heart Journal, 2023