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Guia prático sobre o uso seguro dos agonistas do receptor de GLP-1 no perioperatório
Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
30/10/2024
Os agonistas do receptor de GLP-1 (GLP-1 RAs) vêm revolucionando o tratamento de doenças crônicas como a obesidade e o diabetes mellitus tipo 2. Em virtude da eficácia desses fármacos, assim como do perfil de segurança, o número de pacientes em uso prolongado dos GLP-1 RAs tem aumentado progressivamente.
Uma preocupação em debate atualmente diz respeito ao uso perioperatório de GLP-1 RA devido ao esvaziamento gástrico tardio e subsequente conteúdo gástrico residual no dia do procedimento, apesar do jejum tradicional. Já houve relatos de aspiração pulmonar de conteúdo gástrico em pacientes que estavam em uso de GLP-1RAs submetidos a sedação e/ou anestesia geral.
Neste mês de outubro, foi publicado um guia de prática clínica elaborado por cinco entidades médicas (American Gastroenterological Association, American Society for Metabolic and Bariatric Surgery, American Society of Anesthesiologists, International Society of Perioperative Care of Patients with Obesity e Society of American Gastrointestinal and Endoscopic Surgeons ) com o objetivo de fornecer uma orientação unificada e multidisciplinar sobre o uso seguro dos agonistas do receptor de GLP-1 no perioperatório. Veja a seguir algumas recomendações:
1. As equipes de atendimento devem considerar as seguintes variáveis como elevando o risco de esvaziamento gástrico retardado e broncoaspiração com o uso de GLP-1RA:
a. Fase de escalonamento: A fase de escalonamento, em comparação com a fase de manutenção, está associada a um risco maior de esvaziamento gástrico retardado com o uso de GLP-1RA.
b. Dose mais alta: Quanto maior a dose de GLP-1RA, maior a probabilidade de risco de efeitos colaterais gastrointestinais.
c. Dosagem semanal: Os efeitos colaterais gastrointestinais são mais comuns com compostos de formulação semanais em comparação com compostos de formulação diária.
d. Presença de sintomas gastrointestinais: Os sintomas sugestivos de esvaziamento gástrico retardado podem incluir náusea, vômito, dor abdominal, dispepsia e constipação.
e. Condições médicas além do uso de GLP-1RA que também podem atrasar o esvaziamento gástrico, como gastroparesia e doença de Parkinson.2.
A terapia com GLP-1RA pode ser continuada no pré-operatório em pacientes sem risco elevado de esvaziamento gástrico tardio e broncoaspiração. Se a decisão de suspender for indicada devido a um perfil de segurança inaceitável após a tomada de decisão compartilhada no período pré-operatório, a duração da suspensão da terapia é desconhecida. Neste momento, sugere-se seguir a orientação original da Sociedade Americana de Anestesiologistas, suspendendo no dia da cirurgia para formulações diárias e uma semana antes da cirurgia para formulações semanais.
2. O uso seguro de GLP-1RAs no período perioperatório deve incluir esforços para minimizar o risco de broncoaspiração. Isto pode ser alcançado por modificação da dieta pré-operatória e/ou alteração do plano de anestesia:
a. Modificação da dieta pré-operatória (dieta líquida pré-operatória por pelo menos 24 horas, conforme realizada em pacientes submetidos à colonoscopia e cirurgia bariátrica) pode ser utilizada em pacientes quando há preocupação com o esvaziamento gástrico retardado com base na revisão dos sintomas clínicos.
b. A ultrassonografia gástrico no local de atendimento pode ser usada para avaliar o risco de aspiração.
c. Tomada de decisão compartilhada e considerar os benefícios e riscos da indução de sequência rápida de anestesia geral para intubação traqueal para minimizar o risco de aspiração versus cancelamento do procedimento.