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Finerenona e inibidores de SGLT2 na insuficiência cardíaca: subanálise do FINEARTS-HF
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Escrito por
Ivson Braga
Publicado em
6/2/2025
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O estudo FINEARTS-HF , publicado em 2024, demonstrou que a finerenona reduziu desfecho composto de piora da insuficiência cardíaca e morte por causas cardiovasculares em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção levemente reduzida e preservada. Nessa população, até então, apenas os inibidores da SGLT2 conseguiram demonstrar o mesmo benefício (EMPEROR-Preserved e DELIVER). Entre os participantes do FINEARTS-HF, 13,6% já usavam um inibidor de SGLT2 (iSGLT2) no início do estudo e 980 pacientes iniciaram durante o acompanhamento. Nesse contexto, será que a eficácia da finerenona é influenciada pelo uso concomitante de inibidores de SGLT2? Uma subanálise publicada por Vaduganathan et al. (Effects of the Nonsteroidal MRA Finerenone With and Without Concomitant SGLT2 Inhibitor Use in Heart Failure) explorou essa duvida.
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Leitura recomendada:
- ESC 2024: A finerenona reduz eventos cardiovasculares em pacientes com ICFEP? - Portal Afya
- Afya Papers | Estudo DELIVER: mais uma medicação benéfica na ICFEP?
- Afya Papers | EMPEROR Preserved - Empagliflozina para IC com fração de ejeção preservada!
A subanálise do FINEARTS-HF classificou os 6.001 pacientes em dois grupos de acordo com o uso prévio de inibidor de SGLT2. 817 (13,6%) já faziam uso de um inibidor de SGLT2 no início do estudo, enquanto 5.184 (86,4%) não utilizavam a medicação. O objetivo era entender se a finerenona oferecia o mesmo grau de proteção contra eventos cardiovasculares em ambos os perfis de pacientes. Para entender se o efeito da finerenona seria diferente caso o paciente começasse um iSGLT2 durante o estudo, foi feita uma análise de variáveis temporais.
Entre os principais resultados, a finerenona reduziu eventos cardiovasculares de forma semelhante, independentemente do uso de inibidores de SGLT2. Entre os 817 pacientes (13,6%) que já utilizavam um iSGLT2 no início do estudo, a finerenona levou a uma redução de 17% no risco de eventos cardiovasculares (HR: 0,83; IC 95%: 0,60–1,16). Nos 5.184 pacientes (86,4%) que não usavam iSGLT2, a redução foi de 15% (HR: 0,85; IC 95%: 0,74–0,98). O P de interação foi 0,76, indicando que não houve diferença estatística no efeito da finerenona entre os grupos.
Durante o acompanhamento, 980 pacientes iniciaram um iSGLT2, e essa adesão foi menor no grupo finerenona em comparação com o placebo (17,7% vs. 20,1%; HR: 0,86; P = 0,02), possivelmente devido à menor necessidade de otimização terapêutica adicional. As análises ajustadas para o uso dinâmico de iSGLT2 ao longo do estudo mostraram que a introdução desse tratamento não alterou significativamente o efeito da finerenona nos desfechos cardiovasculares (HR = 0,85; IC 95%: 0,76–0,95; P = 0,003). Em relação à segurança, apesar do aumento discreto nos níveis de potássio, não houve aumento significativo de hipercalemia grave ou hospitalizações relacionadas. Além disso, o declínio da função renal foi pequeno e compatível com o efeito esperado da finerenona.
Qual entendimento podemos ter sobre esses resultados?
Os resultados dessa subanálise sugerem que a finerenona reduz eventos cardiovasculares independentemente do uso concomitante de inibidores de SGLT2, mantendo um perfil de segurança aceitável, sem aumento significativo de hipercalemia grave ou impacto clínico relevante na função renal. Ao que as evidências atuais apontam, a finerenona entra como tratamento eficaz, seguro e independente de pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção > 40%.
Referência:
Vaduganathan, Muthiah et al. “Effects of the Nonsteroidal MRA Finerenone With and Without Concomitant SGLT2 Inhibitor Use in Heart Failure.” Circulation vol. 151,2 (2025): 149-158. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.124.072055