Compartilhe
A dosagem de Lipoproteína (a) pode ser útil na estratificação de risco em pacientes com doença coronária estável?

Escrito por
Ivson Braga
Publicado em
23/1/2025

O interesse no papel da lipoproteína(a) - Lp (a) como fator de risco na doença coronariana aterosclerótica tem crescido nos últimos anos. Estudos têm demonstrado que níveis elevados de Lp(a) estão associados ao aumento do risco cardiovascular, independentemente de outros fatores clássicos. Nesse contexto, um questionamento interessante que surge seria se os níveis de Lp(a) teriam algum papel na estratificação de pacientes em investigação de dor torácica estável. Esse questionamento foi testado no trabalho "Elevated Lipoprotein(a) is Independently Associated with the Presence of Significant Coronary Stenosis in De-Novo Patients with Stable Chest Pain".
Esse trabalho utilizou dados do programa dinamarquês Dan-NICAD e avaliou a relação entre os níveis de Lp(a) e a presença de estenose coronariana em 4.346 pacientes com dor torácica estável sem histórico de DAC conhecida. A média de idade foi de 58 anos, 53% eram do sexo masculino, 33,9% tinham história familiar de DAC, 54% eram tabagistas, 24,7% tinha dislipidemia, 40% HAS e 6,5% DM2. Os pacientes foram submetidos à angiotomografia de coronárias para investigação de sintomas de dor torácica estável e lesões > 50% foram consideradas significativas. Os pacientes foram estratificados em quatro categorias de Lp(a):
• Normal: < 20 nmol/L;
• Moderadamente elevado: 20 a < 125 nmol/L;
• Alto: 125 a < 200 nmol/L;
• Muito alto: ≥ 200 nmol/L).
Principais Resultados:
• A prevalência de estenose coronariana aumentou progressivamente com níveis mais elevados de Lp(a): 23,5% para níveis normais (<20 nmol/L) e 33,9% para níveis muito altos (≥200 nmol/L).
• Pacientes com níveis altos e muito altos de Lp(a) apresentaram odds ratios ajustados de 1,60 e 1,79, respectivamente, para estenose coronariana, comparados aos indivíduos com níveis normais.
• A associação entre Lp(a) e estenose foi independente de fatores de risco cardiovasculares tradicionais.
• Diferenças sexuais foram observadas, com mulheres apresentando maior prevalência de Lp(a) elevado e maior probabilidade de estenose coronariana associada.
O estudo apresenta limitações relevantes, como a distribuição assimétrica dos níveis de Lp(a), o foco em uma população de ascendência europeia. A análise quantitativa das lesões foi visual, além da falta de informações sobre o uso de terapias específicas, como inibidores de PCSK9 e a definição de hipercolesterolemia baseada apenas no uso de medicamentos o que pode subestimar o risco em pacientes não tratados.
Em conclusão, este estudo reforça o papel da Lp(a) como marcador independente e potencialmente modificável do risco cardiovascular. Além disso, sugere que a utilização da Lp(a) em modelos preditivos de risco pode contribuir para diagnóstico e estratificação de pacientes com dor torácica estável.
Referência:
Brix, Gitte Stokvad et al. “Elevated lipoprotein(a) is independently associated with the presence of significant coronary stenosis in de-novo patients with stable chest pain.” American heart journal, S0002-8703(25)00001-8. 7 Jan. 2025, doi:10.1016/j.ahj.2025.01.001.