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Escore de cálcio elevado – o gato subiu no telhado?

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Escore de cálcio elevado – o gato subiu no telhado?

Dona Margô procurou o cardiologista porque estava assustada pois sua cunhada acabara de ter um infarto. Assintomática, tem 60 anos e tratava de hipertensão há 3 anos. Nunca fumou. Nunca gostou muito de atividade física. Escore de risco de Framingham intermediário. Escore de cálcio de 450 Agatston, acima do percentil 90 para faixa etária e sexo. Dona Margô que não é boba perguntou para seu médico: e aí Doutor, ta tudo entupido?

Como vimos anteriormente, a extensão e quantidade de calcificação coronária detectada pelo escore de cálcio (EC) se correlaciona com a carga de aterosclerose total e risco futuro de eventos. Por outro lado, embora tenha alta sensibilidade, a especificidade do EC para detecção de estenoses coronárias é baixa.

Sabemos que a aquisição do EC não utiliza contraste iodado, não permitindo identificar outras estruturas da parede vascular como as placas não calcificadas, impossibilitando também a definição do lumen vascular. Dessa forma, embora pacientes com elevado EC tenham maior chance de possuir uma estenose coronária significativa e isquemia miocárdica, essa relação é apenas probabilística. Não é impossível, portanto, encontrarmos pacientes com elevada carga de calcificação parietal coronariana sem nenhuma estenose significativa.

Por outro lado, estudos com cintilografia miocárdica identificaram isquemia miocárdica em até 30% dos indivíduos com EC > 400 Agatston. E mesmo naqueles sem isquemia miocárdica, a calcificação coronária se correlacionou com maior eventos coronários futuros (1). De maneira que a associação do EC com alguma metodologia funcional pode fornecer informações mais precisas sobre a presença, extensão e repercussão da doença coronária crônica.

Então, respondendo a questão de Dona Margô, o resultado do exame indica elevado risco de eventos coronarianos futuros e maior probabilidade de que possa haver algum estenose coronariana significativa (e isquemia miocárdica). Assim deve-se refinar a história clínica, em busca de sintomas que possam eventualmente ser atribuídos à coronariopatia, além, obviamente, de ajustar a terapêutica de acordo com o risco cardiovascular ajustado (veja aqui). Também é razoável procurar ativamente por sinais de isquemia miocárdica em provas funcionais não invasivas. A Sociedade Americana de Ecocardiografia, por exemplo, considera indicação apropriada a pesquisa de isquemia miocárdica por ecocardiografia de estresse em pacientes com EC> 400 Agatston (J Am Soc Echocardiogr 2011;24:229-67)

  1. ChangSM,NabiF,XuJ,PetersonLE,AchariA,PrattCM,etal.Thecoronary artery calcium score and stress myocardial perfusion imaging provide independent and complementary prediction of cardiac risk. J Am Coll Cardiol. 2009;54(20):1872-82.

No próximo post...

Manolo é o um indivíduo boa praça. Tem 55 anos, hipertenso e dislipidêmico. Até toma seus remédios direitinho, mas adora um churrasco e não gosta muito de atividade física (“cansa demais... “). Recentemente teve um desconforto torácico enquanto assistia o jogo do seu time de futebol. Achou meio estranho. Resolveu dar uma passada no pronto socorro. Foi avaliado clinicamente e submeteu-se a um eletrocardiograma que estava normal. Por acaso lembrou que estava no carro um exame moderno que o médico tinha indicado, um tal de escore de cálcio e mostrou para o plantonista que olhou o resultado: escore de cálcio zero. Disse então: “Seu Manolo, pode ir pra casa. Não tem nada no coração.... “ Será que a conduta foi correta?

Até lá!