Doença arterial coronária estável: é melhor fazer avaliação anatômica ou funcional?

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Doença arterial coronária estável: é melhor fazer avaliação anatômica ou funcional?

Tema controverso, já previamente discutido nesse post. Com o advento de metodologia não invasiva (Angiotomografia de coronárias - TCCor) de investigação anatômica da doença arterial coronária, não há ainda consenso sobre como investigar inicialmente essa suspeita. Tradicionalmente investigada com provas funcionais, estudos recentes tem demonstrado que a investigação anatômica inicial possa ser superior.

Esse mês foi publicado no Journal of the American College of Cardiology a análise de um registro Dinamarquês (estudo observacional) com mais de 80 mil pacientes (entre 2009 e 2015) com suspeita de DAC estável durante mediana de 3,6 anos, estudando-se as diferenças entre dois grupos que se diferenciavam pela metodologia de investigação inicial: angiotomografia de coronárias ou métodos funcionais (Teste ergométrico ou Cintilografia Miocárdica).

Objetivamente, o estudo demonstrou que os pacientes investigados inicialmente com AngioTC fizeram maior uso de estatina e AAS e foram submetidos a um maior número de procedimentos subsequentes (cateterismo e/ou revascularização) e maior custo (todos com significância estatística). No entanto, apresentaram 30% menos infarto no seguimento (OR 0,71 com IC 0,61 - 0,82), sem diferença estatística em todas as causa de mortalidade (OR 0,96 com IC 0,88 - 1,05). Analisando ambos os endpoints combinados o grupo TCCor apresentou menor incidência (OR 0,87 com IC 0,81 - 0,94).

Impressão pessoal: Assim como comentado anteriormente, o diagnóstico de doença coronária é fundamental e ao que parece, melhor diagnosticado pela TCCor. Porém, submetendo os pacientes a maior número de procedimentos e uso de medicação (e maior custo ao sistema de saúde). Se por um lado, a utilização de medicação individualizada (realmente usa quem tem a doença) pode ser associada a significativa redução na taxa de infartos, o aumento de procedimentos invasivos/revascularização não refletiram em diferença estatística em mortalidade geral.

De maneira que a detecção precoce e direta da doença, associada a avaliação funcional (repercussão clínica da doença) nos parece a chave para individualizar o tratamento, controlar os custos ao sistema de saúde e reduzir desfechos clínicos. Aguardamos por novas evidências que possam melhorar nossa concepção sobre tratamento da doença arterial coronária estável.

Jorgensen et al. Funcional versus anatomical Testing for Suspected CAD. J Am Coll Cardiol 2017;69:1761–70.