O ChatGPT 4.0 pode auxiliar no diagnóstico da dissecção aguda de aorta?

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             A dissecção aórtica aguda é uma emergência cardiovascular de difícil diagnóstico devido à sua apresentação clínica variável, frequentemente simulando condições como síndrome coronariana aguda, embolia pulmonar e tamponamento cardíaco. Cerca de 33,8% dos casos são inicialmente diagnosticados de forma incorreta, o que pode atrasar o tratamento. Diversas estratégias têm sido desenvolvidas para auxiliar no diagnóstico, entre elas, o uso de escores clínicos e de biomarcadores, como o D-dímero, que pode ajudar a descartar a suspeita de dissecção em pacientes de baixo risco, embora sua utilidade isolada seja limitada.

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              Com os avanços da inteligência artificial (IA) na medicina, surge o questionamento: seria possível utilizar o ChatGPT 4.0 para auxiliar no diagnóstico da dissecção aórtica? Um estudo recentemente publicado no American Journal of Cardiology (Can ChatGPT 4.0 Diagnose Acute Aortic Dissection? Integrating Artificial Intelligence into Medical Diagnostics)  investigou essa questão, avaliando se essa IA poderia ser usada para sugerir dissecção de aorta (DA) como hipótese diagnóstica a partir de dados clínicos de pacientes.  

              O estudo foi uma análise retrospectiva baseada em relatos de caso publicados no PubMed. Foram selecionados 10 casos aleatórios de um total de 163 encontrados na base de dados PubMed com o termo “acute aortic dissection”, filtrando apenas publicações do último ano. Para cada caso, foram extraídos sintomas, achados do exame físico e sinais vitais dos pacientes. As informações foram inseridas no modelo de IA, que deveria gerar três diagnósticos diferenciais e um diagnóstico provisório principal. O desempenho do ChatGPT foi considerado satisfatório se a dissecção aórtica estivesse entre os três diagnósticos diferenciais sugeridos e, idealmente, como diagnóstico principal.

              O estudo demonstrou que o ChatGPT 4.0 identificou a dissecção aórtica como um dos três principais diagnósticos diferenciais em 100% dos casos analisados (10/10), enquanto acertou o diagnóstico principal em 50% dos casos (5/10). Além disso, observou-se que a apresentação clínica variou significativamente, com apenas um paciente exibindo o sintoma clássico de dor torácica irradiada para as costas. O ChatGPT sugeriu outros diagnósticos diferenciais, como síndrome coronariana aguda, embolia pulmonar e pancreatite.

              O estudo apresenta limitações importantes, como a falta de acesso aos exames essenciais para o diagnóstico definitivo da dissecção aórtica. Além disso, o ChatGPT 4.0 não é uma ferramenta diagnóstica oficial, dependendo da qualidade dos dados inseridos e sem capacidade de ajustar hipóteses com base em exames subsequentes. A amostra analisada também foi pequena (10 casos), o que pode não refletir toda a variabilidade clínica da doença. Por fim, há risco de erro diagnóstico se usado isoladamente. 

              Esses achados sugerem que a inteligência artificial pode atuar como uma ferramenta de triagem rápida e acessível, auxiliando na suspeição diagnóstica. Entretanto, como acertou o diagnóstico principal em apenas 50% dos casos, a IA deve ser vista, pelo menos por enquanto, como ferramenta de triagem que não substitui a velha e boa avaliação médica beira de leito e a realização de exames complementares confirmatórios.

Referência:

Goyal, Aman et al. “Can ChatGPT 4.0 Diagnose Acute Aortic Dissection? Integrating Artificial Intelligence into Medical Diagnostics.” The American journal of cardiology vol. 239 (2025): 90-92. doi:10.1016/j.amjcard.2025.01.010.