Diabetes gestacional aumenta risco cardiovascular no futuro?

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O aparecimento da diabetes gestacional (DG) já é reconhecido hoje como um fator de risco para DM tipo 2 (DM2) no futuro. Nessas mulheres há 7 vezes mais chance que na população geral, e estima-se que entre 20% a 70% destas gestantes desenvolverão DM tipo2 em até 10 anos. Desta forma, sendo a DM tipo 2 um dos principais fatores de risco para doença cardiovascular (DCV) em mulheres, principalmente nas pacientes após o climatério, a ligação entre o DG e o desenvolvimento de doença cardiovascular futura pode ter sua relevância.

 Em março de 2019 foipublicado na revista DIABETOLOGIA (https://doi.org/10.1007/s00125-019-4840-2)uma revisão sistemática emeta-análise canadense que avaliou o risco de doença cardiovascular futura (AVCou doença isquêmica coronária) em mulheres que tiveram diabetes gestacional,tanto nas que desenvolveram DM tipo 2 como nas que não desenvolveram.

Foram incluídosna meta-análise 9 estudos observacionais, maisde 5 milhões de pacientes (101.424 eventos cardiovasculares). Esse estudotrouxe luz a três pontos principais:

  1. O grupo de gestantes com DG tem risco 2x maior (RR 1,98) de um evento cardiovascular futuro.
  2. O risco é independente de desenvolver DM tipo 2 no futuro (P = 0.34). As pacientes que tiveram DG, mesmo na ausência de DM tipo 2 permanecem com risco aumentado (RR 1,56) de DCV no futuro.
  3. A DG confere um risco de DCV 2,3 vezes maior nos primeiros 10 anos após o parto, que apesar de ser decrescente, perdura por grande parte da vida reprodutiva.

Vale lembrarque são estudos observacionais com dados retrospectivos, devemos aguardaroutros estudos prospectivos desenhados para tal hipótese. De todo modo, oartigo chama atenção para a raiz comum do problema já que a gestação funcionacomo um grande teste metabólico e de função endotelial. O aumento daresistência insulínica e a disfunção do endotélio, em gestantes que tiveram DGou mesmo pré-eclampsia, serve como marcador de risco futuro, e apesar de nãoestá nas nossas calculadoras de risco, deve ser lembrada na anamnesecardiovascular no consultório para avaliação dessa subpopulação de forma maiscuidadosa.