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Devemos tratar hipotireoidismo subclinico em idosos?
Escrito por
Eduardo Lapa
Publicado em
29/5/2018
O hipotireoidismo subclínico, definido como nível elevado de TSH e níveis normais de T4 livre, ocorre em 8-18% dos adultos com mais de 65 anos. É um possível fator que pode interferir na saúde de pacientes idosos, contribuindo com alterações cardiovasculares, neurológicas e músculo-esqueléticas. Fadiga é o principal sintoma relatado no hipotireoidismo. Existem dados epidemiológicos que associam o hipotireoidismo subclínico com doença coronariana.
Estudo europeu multicêntrico, publicado no New England, se propôs avaliar se o tratamento com levotiroxina em idosos com hipotireoidismo subclínico possui benefício.
Trata-se de um estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego e placebo controlado. Foram avaliados pacientes maiores de 65 anos, com hipotireoidismo subclínico persistente (TSH 4,6-19,99mIU/L). Excluídos os pacientes em uso de levotiroxina, amiodarona, lítio, demência, doenças terminais, com hospitalização ou submetidos a cirurgias recentes (<4 semanas);
Total de 737 pacientes foram randomizados, o grupo intervenção (n=369) foi tratado com levotiroxina 50 mcg/dia (ou 25 mcg/dia se doença coronariana) e comparados com grupo placebo (n=368). Realizado ajuste de dose visando manter TSH entre 0,4-4,59 mIU/L. Pacientes foram acompanhados por período mínimo de 12 meses.
O objetivo primário foi avaliação de sintomas relacionados ao hipotireoidismo, avaliados pelo score ThyPRO e score de cansaço/astenia. Objetivo secundário: scores de qualidade de vida (relacionados doença tireoidiana), funções cognitivas/executivas, função muscular (handgrip strength), alteração da AIVD e eventos cardiovasculares (fatais e não fatais).
Dos resultados:
- Pacientes tratados com levotiroxina tiveram redução dos níveis médios de TSH (3,63 vs 5,48, p<0,001);
- Não houve diferença estatística no score de sintomas de hipotireoidismo (16,7 vs 16,6, p=0,99);
- Não houve diferença estatística no score de cansaço/astenia (28,6 vs 28,7, p=0,77);
- Realizado analises de subgrupos quanto gênero, idade e níveis de TSH, não encontrado diferenças com significância estatística;
- Não encontrado efeitos significativos em nenhum dos desfechos secundários;
A incidência de efeitos adversos relacionados ao hipertireoidismo (FA, IC, fraturas e osteoporose) foi similar entre os grupos.
Limitações
- Poucos participantes possuíam valores de TSH>10mIU/L, subgrupo de pacientes que podem se beneficiar do tratamento;
- Os pacientes estudados eram pouco sintomáticos (pelos scores avaliados), pacientes mais sintomáticos podem ter beneficio com tratamento;
- Estudo possui pouco poder em detectar desfechos cardiovasculares, devido limitação da amostra recrutada, não se pode excluir a possibilidade de proteção cardiovascular no tratamento com levotiroxina;
Trata-se de um estudo bem desenhado, com adequado poder estatístico e que não encontrou benefício no tratamento do hipotireoidismo subclínico em idosos, quanto aos sintomas relatados dos pacientes.
Pacientes com THS muito elevado (>10mIU/L), muito sintomáticos e com anticorpos anti-TPO positivos (maior risco de evolui para hipotireoidismo) devem ter conduta individualizada.
Texto escrito pelo Dr Valkercyo Feitosa
Referencia
1- D.J. Stott, N. Rodondi, P.M. Kearney, I. Ford, R.G.J. Westendorp, S.P. Mooijaart, N. Sattar, C.E. Aubert, D. Aujesky, D.C. Bauer, C. Baumgartner, M.R. Blum, J.P. Browne, S. Byrne, T.H. Collet, O.M. Dekkers, W.P.J. den Elzen, R.S. Du Puy, G. Ellis, M. Feller, C. Floriani, K. Hendry, C. Hurley, J.W. Jukema, S. Kean, M. Kelly, D. Krebs, P. Langhorne, G. McCarthy, V. McCarthy, A. McConnachie, M. McDade, M. Messow, A. O’Flynn, D. O’Riordan, R.K.E. Poortvliet, T.J. Quinn, A. Russell, C. Sinnott, J.W.A. Smit, H.A. Van Dorland, K.A. Walsh, E.K. Walsh, T. Watt, R. Wilson, J. Gussekloo, T.S. Group, Thyroid hormone therapy for older adults with subclinical hypothyroidism, N. Engl. J. Med. 376 (26) (2017) 2534–2544.