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Denosumabe para sempre? Novos dados sobre os riscos da interrupçao do tratamento.

Escrito por
Luciano Albuquerque
Publicado em
6/12/2024

O denosumabe é um anticorpo monoclonal que impede a ligação RANKL – RANK nos precursores dos osteclastos, reduzindo sua ativação e funcionando como agente anti-reabsortivo. Ensaios clínicos randomizados já demonstararm sua efetividade na melhora da densidade mineral óssea (DMO) e prevenção de fraturas em pacientes com osteoporose. A medicação demonstra segurança na utilização de longo prazo, com dados já publicados de uso contínuo superior a 10 anos.
De fato, a recomendação atual é de uso por prazo indefinido, já que a descontinuação da medicação esta associada a rápida perda de massa óssea e a incidência de fraturas vertebrais “de rebote”. Diante dessa preocupação, uma revisão sistemática publicada em outubro de 2020 no JCEM sugeriu a utilização do ácido zoledrônico quando da interrupção do tratamento com denosumabe, principalmente para pacientes em tratamento com denosumabe há mais de 2,5 anos. Tais pacientes deveriam realizar dosagens trimestrais de ctx, um marcador de reabsorção óssea, sendo indicada nova dose quando tais níveis não estivessem suprimidos após 6 meses do ácido zolendronico (mais detalhes nesse texto publicado aqui mesmo em nosso blog).
Porém, em um novo estudo, essa conduta foi confrontada. Trata-se de um ensaio clinico randomizado realizado em Taiwan. Foram recrutados 101 pacientes (idade mediana, 72; 95% mulheres) que tomaram denosumabe por ≥2 anos. O grupo foi randomizado para continuar com denosumabe ou mudar para zoledronato intravenoso (dose única administrada 6 meses após a última dose de denosumabe). Após 1 ano, a DMO total do quadril e do colo femoral foi semelhante nos dois grupos, mas o grupo zoledronato teve maior perda de massa óssea em coluna vertebral do que o do grupo de continuação do denosumabe. A análise de subgrupos mostrou que essa diferença foi impulsionada principalmente por pacientes cuja duração basal do denosumabe foi ≥3 anos.
Tais resultados sugerem que a mudança para o zoledronato não elimina os riscos da interrupção do denosumabe, embora tal conduta possa ser uma abordagem razoável para pacientes cuja duração do tratamento com denosumabe foi curta. A verdadeira questão não é a perda de DMO, mas o real aumento do risco de fratura. Assim, no momento, o médico e o paciente devem estar cientes da necessidade de continuidade do tratamento por tempo indefinido no momento da prescrição. Pacientes mal aderentes (que poderiam se beneficiar pela posologia semestral) devem ser vistos como maus candidatos ao uso.
Referência: Lee C-C et al. Zoledronate sequential therapy after denosumab discontinuation to prevent bone mineral density reduction: A randomized clinical trial. JAMA Netw Open 2024 Nov; 7:e2443899.