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Dapagliflozina pode ser a nova medicação no paciente com infarto?
Escrito por
Humberto Graner
Publicado em
15/11/2023
Que a dapagliflozina tem seu papel fundamental no paciente com insuficiência cardíaca (independente da fração de ejeção), você já sabe. Mas e no paciente com infarto do miocárdio, a dapagliflozina pode reduzir o risco residual desses pacientes?
O estudo DAPA-MI buscou avaliar a segurança e eficácia da dapagliflozina em pacientes com infarto agudo do miocárdio sem insuficiência cardíaca ou diabetes mellitus. A pesquisa randomizou 4.017 pacientes, com idade média de 63 anos e 20% do sexo feminino, para receber dapagliflozina 10mg diariamente (n = 2.019) ou placebo (n = 1.998), e os acompanhou por um período de 24 meses.
Os critérios de inclusão focaram em pacientes com infarto do miocárdio recente (menos de 10 dias) com função sistólica ventricular esquerda comprometida ou infarto com onda Q, excluindo aqueles com DM e insuficiência cardíaca sintomática.
A análise do estudo foi por win-ratio. O win ratio compara cada desfecho de cada paciente do ensaio com todos os outros pacientes em cada estrato (por exemplo, IC de início recente vs IC crônica descompensada) de uma forma hierárquica e pareada. O win ratio é calculado como o número total de vitórias dividido pelo número total de derrotas no grupo da empagliflozina em todos os estratos.
Os principais achados do estudo indicaram que o desfecho primário para dapagliflozina versus placebo foi um índice de vitória de 1,34 (IC 95% 1,20-1,50, p < 0,001), contemplando uma composição hierárquica de morte, hospitalização por HF, MI não fatal, incidência de fibrilação/flutter atrial, incidência de DM tipo 2, classe funcional NYHA II acima, e perda de peso de ≥5%.
No entanto, a maior parte dessas vitórias se deveu aos aspectos metabólicos, onde a dapagliflozina mostrou redução significativa no desenvolvimento de DM tipo 2 e uma maior perda de peso comparada ao grupo placebo. Não houve diferenças entre os grupos na análise dos demais componentes do desfecho secundário.
Implicações Clínicas no cenário pós-infarto agudo do miocárdio
Este estudo sugere que a dapagliflozina até oferece melhores desfechos cardiometabólicos em comparação com o placebo em pacientes com infarto agudo do miocárdio, mas os benefícios em termos de desfechos clínicos maiores permanece incerto. Mesmo com aproximadamente 75% desta população tendo uma FE <50% no cenário agudo, os benefícios cardiovasculares da dapagliflozina parecem limitados nesses cuidados imediatamente após infarto agudo do miocárdio, SEM sintomas de insuficiência cardíaca.