Coronavírus x troponina e BNP: o que eu preciso saber?

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Coronavírus x troponina e BNP: o que eu preciso saber?

Enquanto escrevemos esse post, o número de casos confirmados de infecção por coronavírus COVID-19 no Brasil já ultrapassa 1.500, e cresce exponencialmente.

Até o momento, as evidências sugerem que pacientes com doenças cardiovasculares subjacentes representam mais de 40% dos pacientes hospitalizados devido ao COVID-19, e possuem maior risco de complicações e morte pela infecção. No entanto, ainda há muito a ser esclarecido sobre os mecanismos envolvidos nesta relação. Os efeitos cardiovasculares em um paciente com infecção por COVID-19 não são uniformes e apresentam gravidade variável em diferentes pacientes.

Vários relatos de caso apontam que indivíduos infectados com COVID-19 podem apresentar elevação de troponina ultrassensível. Ao passo em que valores acima do percentil 99 são observados em 8% a 12% dos casos, esses níveis séricos são significativamente aumentados naqueles com formas mais graves. Um artigo recente publicado no Lancet enfatizou que valores acentuadamente elevados de troponina foram observados em mais da metade dos pacientes que faleceram.

Alguns mecanismos possíveis incluem:

  • injúria miocárdica direta, tal como se observa em outras situações de insuficiência respiratória grave;
  • miocardite pelo COVID-19, dada a presença abundante de ACE2 na membrana do cardiomiócito, principal sítio de ligação do SARS-CoV-2;
  • infarto agudo do miocárdio (IAM), que pode ser tanto por instabilização de placa aterosclerótica na vigência de infecção grave aguda (IAM Tipo 1), quanto por um desbalanço na oferta/demanda de oxigênio (IAM Tipo 2).

Além disso, pacientes com COVID-19 também podem apresentar elevação de BNP ou NT-proBNP. O significado desse achado é incerto, e não deve necessariamente desencadear uma avaliação ou tratamento para insuficiência cardíaca, a menos que haja evidência clínica convincente para este diagnóstico.

Assim, dada a inespecificidade dos valores anormais de troponina ou peptídeo natriurético em pacientes com infecção por COVID-19, não é aconselhado que estes biomarcadores sejam solicitados rotineiramente nessas situações.

Essas é a principal mensagem de uma revisão feita pelo American College of Cardiology (ACC), cujo objetivo é desencorajar a solicitação desnecessária destes marcadores nesse cenário de pandemia.

Os autores reforçam que troponina e BNP/NT-proBNP sejam medidos APENAS se o diagnóstico de IAM ou insuficiência cardíaca estiverem sendo fortemente considerados como condição concomitante. Da mesma forma, a ecocardiografia ou coronariografia em pacientes com COVID-19 e injúria miocárdica devem ser restritas aos pacientes nos quais se espera que estes procedimentos possam mudar o prognóstico.

REFERÊNCIAS:

https://www.acc.org/latest-in-cardiology/articles/2020/03/18/15/25/troponin-and-bnp-use-in-covid19

Lippi G, Lavie CJ, Sanchis-Gomar F. Cardiac troponin I in patients with coronavirus disease 2019 (COVID-19): Evidence from a meta-analysis. Prog Cardiovasc Dis. 2020;S0033-0620(20)30055-4. [published online ahead of print, 2020 Mar 10].

https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)30566-3/fulltext