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Como Prevenir Fibrilação Atrial no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca?
Escrito por
Pedro Veronese
Publicado em
23/11/2021
Fibrilação atrial (FA) é uma das complicações mais comuns após cirurgia cardíaca, elevando o tempo de internação e desfechos adversos como morte e acidente vascular cerebral (AVC) nesta população. O mecanismo de aparecimento de fibrilação atrial no pós-operatório de cirurgias cardíacas ainda não é totalmente conhecido, mas acredita-se que o acúmulo de líquido no espaço pericárdico possa contribuir para este desfecho.
Baseado neste racional, um grupo de pesquisadores do Hospital Presbiteriano de NY sugeriu que a realização de pericardiotomia posterior esquerda (PCT), com a drenagem do líquido pericárdico para a cavidade pleural esquerda, poderia reduzir o risco de FA. O estudo foi apresentado no congresso americano (AHA 2021). Desta forma, 420 pacientes submetidos a cirurgias eletivas de coronária, ou valva aórtica, ou aorta ascendente foram randomizados à PCT vs não PCT. A média de idade foi 61 anos, 24% eram mulheres, e a mediana do CHADSVASc escore era de 2. Eles foram seguidos por 30 dias após a alta.
O desfecho primário foi a presença de FA no pós-operatório durante a internação. Esse resultado foi avaliado por intention-to-treat (ITT). O desfecho de segurança foi avaliado de acordo com o tratamento que o paciente efetivamente recebeu. Dos 420 pacientes avaliados, 212 foram submetidos à PCT. Destes, 37 apresentaram FA (17%). 208 pacientes não foram submetidos à PCT. Destes, 66 apresentaram FA (32%); [p = 0,0007]. Houve 2 óbitos no grupo que realmente foi submetido à PCT (2/209 - 1%) e 1 óbito no grupo que realmente não foi submetido à PCT (1/211- < 1%). A incidência de derrame pericárdico no grupo PCT foi 26/209 (12%) vs 45/211 (21%) no grupo não PCT, RR 0,58 ([95% IC 0,37 – 0,91].
Conclusão dos autores:
A PCT foi altamente efetiva em reduzir a incidência de FA no pós-operatório de cirurgias cardíacas de coronária, valva aórtica ou aorta ascendente, sem adicionar risco no pós-operatório.
Conclusão do Cardiopapers:
Conforme colocado pelos autores, sabe-se que a fibrilação atrial aumenta tempo de internação e eventos adversos como morte e AVC no pós-operatório de cirurgias cardíacas. Foi demonstrado que essa técnica reduz FA no pós-operatório. O próximo passo, contudo, é que haja a demonstração que essa técnica pode, de fato, reduzir os desfechos clínicos duros com morte e AVC.
Este estudo foi apresentado no congresso da AHA 2021. Para ver um resumão de tudo o que aconteceu de mais importante no congresso, veja nosso vídeo abaixo: