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A hidralazina exerce um efeito vasodilatador periférico através de uma ação relaxante direta sobre a musculatura lisa dos vasos, predominantemente nas arteríolas. O mecanismo não é totalmente conhecido.
Em pacientes hipertensos, resulta numa queda de PA (mais intensa da diastólica que a sistólica), e num aumento de frequência cardíaca, volume de ejeção e débito cardíaco.
A vasodilatação periférica não é uniforme. Há aumento de fluxo sanguíneo renal, cerebral, coronariano e esplâncnico, mas há pouca mudança na resistência vascular de leitos cutâneos e muscular.
A taquicardia reflexa induzida pode ocorrer como efeito paralelo, e pode ser controlada se necessário com betabloqueador. Atua então reduzindo a pós-carga, mas pode levar também à retenção de líquidos e sódio, que em pacientes com IC podem precisar de administração concomitante de diurético.
Hidralazina é absorvida rapidamente, com pico de concentração plasmática em 1 hora. Uso junto com alimentos pode diminuir seu efeito vasodilatador. Tem meia-vida de 2 a 3 horas, e se função renal diminuída, a meia-vida pode chegar até a 16 horas. Ela atravessa a barreira placentária e também é excretada no leite materno.
Hidralazina vem nas apresentações de 25 ou 50mg. Uma das marcas de referência é a Apresolina (Novartis).
INDICAÇÃO
Podemos indicar hidralazina para paciente com Hipertensão Arterial, como tratamento adjunto para outros agentes anti-hipertensivos moderada a grave.
Outra possível indicação é para pacientes com Insuficiência Cardíaca com fração de ejeção reduzida. Tivemos trabalhos mostrando o benefício quando associado à hidralazina. No estudo V-HEFT I, em 1986, reduziu mortalidade quando comparado com prazosina. Na época, não tínhamos nada com benefício em mortalidade documentado. Depois, em 1991, saiu o estudo V-HEFT II que mostrou que essa estratégia de hidralazina + nitrato seria inferior ao IECA. Com o tempo, foram percebendo que essas drogas iam melhor em pacientes afrodescendentes. E, em 2004, publicaram o estudo A-HEFT, mostrando que para pacientes afrodescendentes com IC com FE reduzida, em CF III a IV, em tratamento otimizado, associar hidralazina e nitrato poderia reduzir 33% de hospitalização por IC e até 43% mortalidade total (comparado com placebo)!
Resumindo, para IC FEr, teria indicação classe I para pacientes com contra-indicação ao IECA ou BRA, e classe I para pacientes afrodescendentes com CF III-IV com restante da terapia otimizada (incluindo IECA ou BRA). Se não for afrodescendente, seria indicação IIa.
DOSE
Para hipertensão, pode-se iniciar com uma dose 25mg 2x por dia, podendo chegar até 50 a 200mg/dia.
Para pacientes com IC FEr, iniciamos 25mg 3x por dia, e chegamos até a dose de 75mg de 6/6h conforme tolerância - checar esse post mostrando como foi utilizado nos estudos!
Para pacientes com disfunção renal moderada a grave ou disfunção hepática pode ser necessário reduzir a dose.
CONTRA-INDICAÇÕES
Hipersensibilidade à hidralazina. Lúpus eritematoso sistêmico idiopático. Taquicardia grave e IC com alto débito cardíaco. Estenose aórtica ou mitral grave. IC direita com hipertensão pulmonar. Aneurisma de aorta dissecante.
EFEITOS COLATERAIS
Os mais comuns seriam: taquicardia, palpitação, cefaleia, artralgia, mialgia, edema articular. Pode causar diarreia e vômitos, flushing, hipotensão; e pode levar a sintomas Lupus-like.
Lupus induzido por fármacos (LIF) seria uma reação adversa idiossincrática de natureza autoimune de diversos medicamentos, que causa sintomas semelhantes ao do Lupus Eritematoso Sistêmico (LES). A patogênese é multifatorial, envolvendo fatores imunogenéticos, o metabolismo dos fármacos (fenótipo de “acetilador lento”) e dose. Geralmente ocorre em pacientes mais velhos (maiores que 50 anos) e tem distribuição igualitária entre os sexos (enquanto o LES tem clara predominância feminina). O perfil sorológico também tem diferenças, com frequência maior de anticorpos anti-histonas (90-95% em LIF vs. 60-80% no LES). São menos frequentes anticorpos anti-DNA (50- 80% vs. menos que 5%), anti-Sm (20-30% vs. menos que 5%) e baixos níveis de complemento. O tratamento consiste em descontinuar a droga associada, utilizar AINH para artrite e serosite, corticóide tópico para manifestações cutâneas, e, se refratário, hidroxicloroquina. É raro precisar de corticoide sistêmico.
GESTAÇÃO
Há uma experiência clínica grande no 3º trimestre da gravidez no tratamento de pacientes com eclampsia. Em geral, orienta-se evitar seu uso antes do 3º trimestre, por falta de evidências. Hidralazina é excretado no leite materno, mas não foram relatados efeitos adversos sobre o lactentes. Assim, pode ser utilizada durante a amamentação.