Como diagnosticar sobrecarga de átrio direito pelo ECG sem olhar para a onda P?

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Como diagnosticar sobrecarga de átrio direito pelo ECG sem olhar para a onda P?

Há vários critérios para diagnosticar sobrecarga de átrio direito (SAD) pelo ECG. Grande parte se baseia na amplitude da onda P (exemplo 1 e exemplo 2). Mas, e se o paciente não tiver onda P no ECG, por exemplo? Há como evidenciarmos SAD? Sim! Na verdade, por mais de uma forma. Hoje falaremos de uma delas, o clássico sinal de Sodi-Pallares. Para entendê-l0, temos que rever um conceito básico. Normalmente, a despolarização dos ventrículos inicia-se pela região septal. O vetor gerado direciona-se para a direita, ao encontro de V1. Isto gera uma deflexão positiva inicial nesta derivação (onda r).

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Assim, em um ECG normal, o complexo QRS em V1 inicia-se por uma onda positiva, geralmente de pequena voltagem uma vez que a massa do septo interventricular é relativamente pequena.

normal

Já quando ocorre sobrecarga de ventrículo direito (VD), a conformação normal do coração pode se alterar e o VD hipertrofiado pode assumir uma posição mais anterior ao VE.

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Como se vê na figura, isto pode fazer com que o vetor de despolarização do septo se direciona agora para a esquerda, para longe de V1. Assim, neste caso, ocorrerá não mais uma deflexão positiva em V1, mas sim uma onda inicial negativa (onda q). Mas o que isso tem a ver com diagnóstico de SAD? Simples. Na maioria das vezes em que há sobrecarga de VD, o átrio direito termina sendo sobrecarregado "por tabela".

Resumindo: onda q presente em V1 é um sinal indireto altamente confiável (>95% de especificidade) para diagnóstico de SAD.

Segue exemplo prático de paciente com DPOC e sobrecarga de VD e de AD.

dpoc
dpoc2
sodi-pallares