Compartilhe
Como ajustar o limiar de sensibilidade do marcapasso provisório?
Escrito por
Lucas Aguiar
Publicado em
18/10/2023
Programar o marcapasso provisório pode ser tão desafiador quanto inserir e impactar o eletrodo. Mas a gente desenrola aqui para você não se complicar no plantão!
O limiar de captura/comando já foi explicado em um post anterior (que você pode rever aqui). Agora, vamos explicar como programar o limiar de sensibilidade!
Como começar?
Primeiro, podemos definir o limiar de sensibilidade como a energia a partir da qual o gerador do marcapasso não vai respeitar os batimentos próprios do paciente.
Para ficar mais claro, sugiro a analogia a seguir. Imagine que você está no pronto socorro, que em geral, podemos apelidar carinhosamente de zona de guerra, devido a complexidade e volume de casos.
O gerador do marcapasso é o general, que vai decidir se o marcapasso (soldado) vai disparar ou não. Para ele decidir isso, o general precisa ver quem se aproxima de seu território, se são seus amigos ou se seus inimigos. E o limiar de sensibilidade é um muro, que pode o atrapalhar a ver.
Quando o limiar de sensibilidade está no máximo, o muro está bem baixo, logo ele consegue ver quem está vindo. E pasmen! São seus amigos, que ótimo. Então como ele consegue ver seus amigos se aproximando, ele não deixa os soldados dispararem; ou seja, o marcapasso vê/reconhece todos os QRS próprios do paciente e, portanto, não vai disparar nenhum ciclo; ficando apenas o paciente com seu ritmo próprio. E o ideal, ao iniciar a programação do marcapasso é justamente colocar a sensibilidade no máximo.
Mas agora vamos programar nosso marcapasso, então vamos baixando esse limiar de sensibilidade, ou seja, o muro começa a subir gradativamente. A medida que esse muro for aumentando de tamanho e subindo, vai chegar um ponto em que o general não vai conseguir mais ver quem está se aproximando. É uma decisão difícil para o general, mas ele precisa proteger seu próprio povo! Então, mesmo sem ver quem se aproxima, ele ordena que seus soldados disparem. Esse ponto (essa altura do muro) é o limiar de sensibilidade. É ponto (valor) partir do qual o marcapasso não consegue mais ver quem se aproxima, não consegue mais ver os complexos QRS do paciente, logo ele vai disparar os ciclos (se inicia a estimulação artificial).
Em outras palavras, portanto, limiar de sensibilidade é o valor (altura do muro) partir do qual o marcapasso não vai respeitar os batimentos próprios do paciente, disparando todo ciclo.
Entendido isso, fica mais fácil entender que não é recomendado se testar sensibilidade quando o escape do paciente é muito lento e inadequado para manter condições hemodinâmicas apropriadas.
Além disso, quando descobrimos o valor do limiar de sensibilidade, é recomendado programar a sensibilidade para metade do valor encontrado, a fim de diminuir o risco de uma estimulação competitiva do marcapasso com o batimento o paciente, levando ao fenômeno de R sobre T.
Nas imagens abaixo, temos exemplo do gerador de duas marcas de marcapasso, em que podemos ver na prática como funciona o aparelho. Ao iniciarmos nossa programação, devemos colocar a sensibilidade no máximo como mencionei acima, mas importante ficarmos atentos, pois o valor máximo corresponde a 1 milivolt (1mV na figura). E então, vamos diminuindo essa sensibilidade, até alcançarmos o nosso limiar como descrito acima. Achado esse valor, deixamos pela metade.
E pronto, a guerra chega ao fim!