Cirurgiões brasileiros publicam guideline sobre prevenção e manejo do hipoparatireoidismo pós-cirúrgico.

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A causa mais comum de hipoparatireoidismo primário é cirúrgico, sendo causado por isquemia ou retirada inadvertida das paratireoides após tireoidectomias, especialmente em casos de câncer de tireoide e quando as cirurgias são mais extensas. Numa tentativa de estabelecer condutas mais padronizadas para prevenção e controle da hipocalcemia, especialmente nos primeiros dias do pós-operatório, aSociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e o Colégio Brasileiro de Cirurgiões publicaram um guideline sobre o tema. Abaixo as principais recomendações:

 

1.       Recomenda-se fortemente a dosagem laboratorial de cálcio, 25-hidroxivitamina D e PTH antes de cirurgias de tireoide. Deve-se tratar a deficiência de vitamina D caso presente, antes do procedimento cirúrgico. Embora os autores comentem a controvérsia existente na literatura sobre a prevenção ou não da hipocalcemia pós-operatória com a suplementação prévia de vitamina D, eles entendem que a dosagem pré-operatória pode ser útil especialmente para flagrar deficiências graves de vitamina D, nas quais o potencial benefício da suplementação parece ser maior.

2.       Recomenda-se fortemente que sejam tomados cuidados técnicos durante o procedimento cirúrgico, com o objetivo de manter as paratireoides in situ assim como de preservar sua vascularização e, assim, evitar o hipoparatireoidismo.

3.       Recomenda-se fortemente que as glândulas paratireoides que foram comprovadamente desvasculaizadas ou que foram removidas acidentalmente sejam reimplantadas. O auto-implante deve ser realizado no antebraço, embora ainda existam dúvidas na literatura se esta técnica realmente é capaz de diminuir o risco de hipoparatireoidismo permanente.

4.       Recomenda-se realizar pelo menos duas dosagensde cálcio sérico entre a cirurgia e as primeiras 18 a 24 horas após o procedimento para serem usados como fatores preditores de hipocalcemia e paraguiar a suplementação inicial de cálcio oral e de calcitriol. Os autores dão preferência à dosagem do cálcio iônico.

5.       Recomenda-se fortemente que seja realizada, caso disponível, a dosagem de PTH sérico entre 1 e 24 horas após a tireoidectomia, uma vez que esta dosagem é o melhor preditor do risco de hipoparatireoidismo e hipocalcemia. Os autores orientam que, na presença de níveis de PTH acima de 15 pg/ml, o paciente pode receber alta sem necessidade de suplementação de cálcio e calcitriol. Vale ressaltar aqui uma diferença em relação à recomendação da última diretriz internacional de hipoparatireoidismo publicada em 2022, na qual o ponto de corte de 10 pg/ml é utilizado para predizer o baixo risco de hipoparatireoidismo.

 

Adicionalmente às recomendações listadas anteriormente, os autores sugerem condutas específicas de acordo com o nível de PTH quando este está abaixo de 15 pg/ml:

 

1.       Se PTH abaixo de 8 pg/ml com Ca iônico (Cai) abaixo de 0,8 mmol/L: manter paciente internado; infundir gluconato de cálcio a 10%;deixar manutenção de cálcio em bomba de infusão contínua na dose de 0,5 mg/Kg/h; e iniciar cálcio elementar 1000mg mais calcitriol 0,25 mcg de 6/6h.

2.       Se PTH entre 8 e 9,9 pg/ml com Cai entre 0,8 e0,9 mmol/L: iniciar cálcio elementar 1000mg mais calcitriol 0,25 mcg de 8/8h.

3.       Se PTH entre 10 e 15 pg/ml com Cai entre 1,0 e 1,15mmol/L: iniciar cálcio elementar 1000mg mais calcitriol 0,25 mcg de 12/12h.