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Câncer é o Novo Fator de Risco Cardiovascular?
Escrito por
Humberto Graner
Publicado em
1/2/2024
O tratamento para câncer pode aumentar o risco cardiovascular para complicações decorrentes da toxicidade de quimioterápicos. Isso, certamente você já sabe. É, inclusive, o fundamento para o crescimento da sub-especialidade Cardio-Oncologia. A novidade aqui é outra. O paciente que já teve alguma neoplasia pode apresentar maior risco cardiovascular futuro, independente do tratamento?
Esta é o principal achado de um estudo apresentando no último AHA 2023, sugerindo que o câncer deve ser considerado um novo fator de risco cardiovascular na prevenção primária e secundária.
Como foi o estudo?
A análise retrospectiva incluiu 937 pacientes que passaram por angioplastia coronária por síndrome coronariana aguda entre 2008 e 2022. Desses, 9,5% tinham histórico de câncer.
Durante um acompanhamento médio de 45 meses (variando de 14 a 72 meses), as taxas de incidência cumulativas de um evento cardiovascular maior (MACE - morte cardiovascular, AVC, infarto agudo do miocárdio, ou nova angioplastia) foram de 22,2% (155/698) e 28,4% (25/88) nos grupos sem e com histórico de câncer, respectivamente.
A incidência de eventos cardiovasculares maiores foi significativamente maior no grupo com histórico de câncer: 0,78 evento/100 pacientes/mês, comparado a 0,48 no grupo sem histórico de câncer.
Além da análise de Kaplan-Meier ter mostrado uma maior probabilidade de MACE nesse grupo de pacientes, a análise de regressão de Cox multivariada identificou o histórico de câncer como um preditor independente de eventos cardiovasculares maiores.
Implicações Clínicas:
O estudo é relevante, e reforça a conexão entre doenças oncológicas e cardiovasculares. Embora observacional, aponta uma necessidade de uma intensificar as medidas de prevenção cardiovascular primária e secundária em sobreviventes de câncer, considerando a epidemiologia e a história natural desses pacientes. Ou seja, não estamos mais falando apenas de cardiotoxicidade por quimioterápicos, mas de um risco residual maior que permanece para além do tratamento anti-neoplásico.
Na discussão do estudo, os autores enfatizaram a necessidade de metas mais rigorosas de prevenção cardiovascular primária para pacientes com histórico de câncer, equiparando-as às de pacientes com diabetes ou insuficiência renal crônica. O estudo realça a necessidade de uma abordagem diferenciada na prevenção cardiovascular de pacientes com histórico de câncer, considerando fatores específicos como terapias oncológicas e inflamação endotelial.
Mensagem final
Se o paciente afirmar que teve alguma neoplasia no passado, ATENÇÃO! É um paciente que pode ter maior risco cardiovascular e demandar mais cuidados!
Referência
Melchiori et al. Cancer as a New Risk Factor for Major Adverse Cardiovascular Events in Secondary Prevention. Circulation. 2023;148:A16592