A avaliação cardiológica realmente faz alguma diferença no perioperatório de correção de aneurisma de aorta abdominal?

Compartilhe

Complicações cardiovasculares como o infarto agudo do miocárdio (IAM) são as principais responsáveis pela morbimortalidade em pacientes adultos submetidos a cirurgias não-cardíacas. O processo de envelhecimento populacional progressivo só exacerba este problema levando a pacientes mais idosos e com mais comorbidades a necessitarem de procedimentos cirúrgicos.

Apesar de diferenças entre os estudos, as cirurgias maiores não-cardíacas cursam com taxa de mortalidade cardíaca de 0,5% a 1,5%. Quando aplicado à cirurgia de Aorta abdominal aberta convencional (AAA), esta taxa é ainda maior. Os investigadores levantaram a hipótese de que a avaliação cardiológica pré-operatória intensiva baseada na identificação de fatores de risco cardiovasculares associada aos exames complementares diminuiria o índice destas complicações.

Publicado no Annals of Vascular Surgery, este estudo comparou dois grupos de pacientes operados de forma aberta convencional por AAA nos períodos de 2000 a 2002 e de 2003 a 2008. Os pacientes foram operados de forma consecutiva pela mesma equipe cirúrgica e anestésica no hospital da Universidade de Brescia, Italia. A partir do segundo período, os pacientes com pelo menos um fator de risco cardiológico foram avaliados por um cardiologista o qual prosseguiu, segundo as diretrizes da ACC/AHA, com a investigação e tratamento.

No primeiro período foram operados 204 pacientes de AAA comparados a 418 do segundo período. As duas populações de pacientes eram comparáveis do ponto de vista de comorbidades , sexo, idade. Dos 204 do primeiro período no dia da cirurgia 23% estavam em uso de beta-bloqueadores, 17% de estatinas e 56% de antiplaquetários, em comparação com 50%, 65% e 78% do segundo, respectivamente. O número de pacientes submetidos a exames complementares antes da cirurgia de 2003 a 2008 aumentou significativamente comparado com o período anterior (39,5% vs 16,2%). Entretanto, o percentual de pacientes submetidos a revascularização miocárdica permaneceu estável (1,2% vs 1%). A mortalidade hospitalar de 2003 a 2008 foi de 0,9% (4 pacientes) e de 3,4% (7 pacientes) de 2000 a 2002. Só uma morte por IAM de 2003 a 2008 em comparação a 3 no primeiro período.

O estudo foi desenhado para estimar a potencial eficácia da avaliação intensiva cardiológica pré-operatória na morbi-mortalidade cardíaca em pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos de alto risco. Estes resultados estão de acordo com os últimos guidelines do ACC/AHA e da European Heart Association, ambos referendados pela Sociedade Europeia de Anestesiologia, que enfatizam a importância dos dados clínicos e estratificação cardiológica pré-operatória.

O estudo apresenta várias limitações como o fato de ser retrospectivo, observacional, não randomizado, entretanto o resultado inequívoco de benefício da avaliação cardiológica pormenorizada e com uso racional dos exames complementares reforça as orientações dos últimos guidelines.

Bibliografia:

  • Preoperative Cardiac Evaluation and Perioperative Cardiac Therapy in Patients Undergoing Open Surgery for Abdominal Aortic Aneurysms: Effects on Cardiovascular Outcome. Faggiano P, Bonardelli S, De Feo S, Valota M, Frattini S, Cervi E, Guadrini C, Giulini SM, Dei Cas L. Ann Vasc Surg 2012 Feb; 26(2): 156-65