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Por muito tempo, a associação da Lp(a) com as doenças cardiovasculares é conhecida, mas apenas nos últimos anos ela tem ganhado mais holofotes. A virada de jogo veio com estudos de randomização mendeliana, que confirmaram a Lp(a) como um fator de risco causal. Estes estudos mostraram que variações genéticas no gene LPA, que resultam em níveis elevados de Lp(a) ao longo da vida, são mais frequentes em indivíduos com doenças cardiovasculares e estenose da válvula aórtica.
Todas essas descobertas têm levado ao desenvolvimento de medicamentos altamente eficazes que podem reduzir os níveis de Lp(a) em até 80% a 99%. Estas medicações estão atualmente sendo testados em ensaios clínicos para verificar se este efeito redutor na Lp(a) pode também diminuir eventos cardiovsaculares importantes.
Qual é mais aterogênica: Lp(a) ou LDL?
A comparação da aterogenicidade da Lp(a) com o LDL tem sido um tópico de debate. Um estudo conduzido por Björnson e cols abordou esta questão de maneira elucidativa. Eles realizaram uma análise genética, aproveitando o fato de que ambas as partículas contêm uma molécula de apolipoproteína B (apoB).
Através de estudos de associação genômica ampla, identificaram conjuntos de polimorfismos que se correlacionam com os níveis de Lp(a) e LDL, respectivamente. Esses conjuntos foram usados para explorar a relação entre níveis elevados de apoB, previstos geneticamente, e o risco cardiovascular.
Descobriram que um aumento de 50 nmol/L na apoB, oriunda das partículas de Lp(a) estava associado a um aumento de 28% no risco de doença cardiovascular, enquanto o mesmo aumento na apoB das partículas de LDL estava associado apenas a um aumento de risco de 4%. Isso sugere que a Lp(a) possui uma aterogenicidade aproximadamente seis vezes maior que o LDL por partícula.
Um estudo subsequente de Marston e cols, usando uma metodologia diferente, também concluiu que, em termos de risco cardiovascular por partícula, as partículas de Lp(a) apresentam um risco significativamente maior do que as partículas de LDL que não contêm apoB da Lp(a). Importante ressaltar que, na população em geral, as partículas de LDL são muito mais abundantes que as de Lp(a). Mais da metade da população apresenta concentrações baixas de Lp(a), o que não está associado a um aumento significativo do risco. No entanto, para indivíduos com concentrações elevadas de Lp(a), a apoB dessas partículas apresenta maior aterogenicidade, e pode contribuir de maneira significativa para o risco cardiovascular total.
Esses achados sustentam a importância da Lp(a) como um alvo adicional de tratamento. Embora ainda não seja consenso, recentemente um consenso da Sociedade Europeia de Aterosclerose recomendou que a Lp(a) deve ser medida pelo menos uma vez em todos os adultos para identificar aqueles com risco cardiovascular aumentado.
Não considerar a Lp(a) na estimativa do risco cardiovascular pode levar a uma subestimação significativa do risco, especialmente em indivíduos com níveis elevados de Lp(a).
Resumindo...
- Estudos de randomização mendeliana confirmaram a Lp(a) como um fator causal de risco, associando variações no gene LPA a doenças cardiovasculares e estenose da válvula aórtica.
- Novos medicamentos, capazes de reduzir os níveis de Lp(a) significativamente, estão sendo testados em ensaios clínicos.
- A aterogenicidade da Lp(a) comparada ao LDL revelou que Lp(a) possui uma aterogenicidade várias vezes maior por partícula.
- Este entendimento reforça a importância de considerarmos aferir a Lp(a) em indivíduos adultos, para identificar aqueles com risco cardiovascular aumentado.
Referências
Björnson E, Adiels M, Taskinen MR, et al. Lipoprotein(a) Is Markedly More Atherogenic Than LDL: An Apolipoprotein B–Based Genetic Analysis. J Am CollCardiol. 2024;83(3):385-95.Marston NA, Melloni GEM, Murphy SA, et al. Per-Particle Cardiovascular Risk of Lipoprotein(a) vs Non-Lp(a) Apolipoprotein B–Containing Lipoproteins. J Am Coll Cardiol. 2024;83(3):470-472.Kronenberg F, Mora S, Stroes ESG, et al. Lipoprotein(a) in Atherosclerotic Cardiovascular Disease and Aortic Stenosis: A European Atherosclerosis Society Consensus Statement. Eur Heart J. 2022;43(39):3925-3946. Kronenberg F, Mora S, Stroes ESG, et al. Frequent Questions and Responses on the 2022 Lipoprotein(a) Consensus Statement of the European Atherosclerosis Society. Atherosclerosis. 2023;374:107-120.