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Alimentos ultraprocessados aumentam o risco de problemas cardiovasculares?

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Todo mundo já ouviu falar que fast food não faz bem para saúde. Várias diretrizes enfatizem a importância de se consumir alimentos minimamente processados, como frutas, vegetais e cereais integrais. Mas as mesmas diretrizes não comentam com tanta veemência sobre a questão se devemos reduzir (e em quanto) o consumo de comidas ultraprocessadas (ex: biscoitos, fast food, refrigerantes, refeições congeladas). Esta diferença pode ser atribuída à escassez de estudos investigando a associação entre desfechos cardiovasculares e alimentos ultraprocessados como uma classe. Em recente artigo publicado no JAMA (1), os autores investigaram as associações entre os alimentos ultraprocessados e a incidência e mortalidade das doenças cardiovasculares, através do estudo de coorte de Framingham (sim, ele e suas eternas ramificações!).

Nesse estudo foram incluídos 3003 adultos saudáveis. Os dados da dieta, retirado de questionários, medidas antropométricas e fatores sociodemográficos e de estilo de vida foram coletados entre 1991 e 2008. Os dados sobre a incidência e mortalidade das doenças cardiovasculares estavam disponíveis até 2014 e 2017, respectivamente.

Durante o seguimento (de 1991 até 2014/2017), foram identificados 251 casos de doenças cardiovasculares maiores, 163 casos de doenças coronarianas maiores e 648 mortes por doença cardiovascular. Em média, os participantes consumiam 7.5 porções por dia de comida ultraprocessada no início do estudo. Após análise estatística com modelos multivariáveis ajustados, foi encontrado que para cada porção adicional diária desses alimentos havia um aumento de 7% de risco de desenvolver uma doença cardiovascular maior, 9% de desenvolver uma doença coronariana maior e 9% de morrer por doença cardiovascular. Entenda-se porção como, por exemplo, uma lata de refrigerante ou um copo de cereais no café.

Esse estudo tem grande importância porque, apesar do tempo que se discute dieta e doença cardiovascular, e mesmo com todas as limitações conhecidas de estudos observacionais ( baseado em questionários, e com potencial fatores de confusão residuais ), ele é um estudo de longo seguimento, com desfechos duros, e traz números palpáveis e objetivos, confirmando mais uma vez os malefícios associados às dietas de alimentos ultraprocessados.Além disso, se levarmos em consideração que 58% da energia da dieta de um americano vem de alimentos ultraprocessados, dá pra imaginar a importância de medidas públicas para incentivar e facilitar o consumo de uma dieta mais saudável, e impor mais restrições aos ultraprocessados, com importante impacto na redução de morbimortalidade da população.

1- Ultra-Processed Foods and Incident Cardiovascular Disease in the Framingham Offspring Study

Filippa Juul , Georgeta Vaidean , Yong Lin , Andrea L. Deierlein , and Niyati Parekh

J Am Coll Cardiol. 2021 Mar, 77 (12) 1520–1531