A criança com DM1 - o que muda no tratamento segundo as diretrizes ?

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O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é a forma mais comum de diabetes nos jovens, embora os dados sugiram que pode ser responsável por uma grande proporção de casos diagnosticados na vida adulta. Devemos considerar as particularidades do cuidado e manejo de crianças e adolescentes com DM1, como alterações na sensibilidade à insulina relacionadas ao crescimento físico e à maturação sexual, capacidade de prestar autocuidado, supervisão na creche e no ambiente escolar, vulnerabilidade neurológica à hipoglicemia e hiperglicemia em crianças pequenas e possíveis efeitos neurocognitivos adversos da cetoacidose diabética (CAD).

Em 2023, a Sociedade Brasileira de Diabetes acrescentou um novo capítulo a sua diretriz abordando as particularidades do manejo do DM1 nas crianças. Vejamos abaixo, as principais recomendações:

  • Crianças com DM1, em todas as idades, devem utilizar insulinoterapia intensiva com múltiplas aplicações de insulina ao dia, para reduzir o risco de complicações microvasculares. O benefício da terapia intensiva supera o risco aumentado de hipoglicemia também na faixa etária pediátrica;
  • A utilização de seringas ou canetas com incrementos de meia unidade em crianças pequenas está recomendada, e diluição da insulina quando o sistema de infusão contínua de insulina não for disponível, para maior acurácia e menor risco de hipoglicemia;

**A diluição da insulina como soro fisiológico é uma opção segura para as crianças pequenas que necessitam de baixas doses por proporcionar menor variabilidade no controle glicêmico

  • Recomenda-se a utilização do sistema de infusão contínua de insulina como o método de preferência para crianças menores de 7 anos com DM1, por proporcionar melhor controle glicêmico e menor número de hipoglicemias graves;
  • Devemos considerar buscar a meta de HbA1c<7,0% em crianças com DM1 para reduzir os riscos da hiperglicemia crônica no desenvolvimento cognitivo;

** Sobre metas, o guideline 2023 da American Diabetes Association recomenda que: Metas de HbA1c menos rigorosas (como <7,5%) podem ser apropriadas para jovens que não conseguem reconhecer sintomas de hipoglicemia, têm falta de acesso a insulinas análogas, tecnologia avançada de administração de insulina e/ou monitoramento contínuo da glicose ou não conseguem verificar a glicemia regularmente.

  • Recomenda-se avaliar peso, altura e índice de massa corporal em todas as crianças com diabetes tipo 1 a cada consulta, por serem bons indicadores clínicos do controle do diabetes;
  • Está recomendada a monitorização intensiva da glicose para o manejo do diabetes tipo 1 em todas as idades, por estar associado à maior probabilidade de atingir metas glicêmicas, melhora do controle glicêmico e menor risco de cetoacidose diabética;

Referências:

Rafael Machado Mantovani, Marcia Puñales, Susana Viegas Chen, Monica Andrade Lima Gabbay. Peculiaridades do tratamento da criança com DM1. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (2023). DOI: 10.29327/5238993.2023-2, ISBN: 978-85-5722-906-8.

Nuha A. ElSayed, Grazia Aleppo, Vanita R. Aroda, Raveendhara R. Bannuru, Florence M. Brown, Dennis Bruemmer, Billy S. Collins, Marisa E. Hilliard, Diana Isaacs, Eric L. Johnson, Scott Kahan, Kamlesh Khunti, Jose Leon, Sarah K. Lyons, Mary Lou Perry, Priya Prahalad, Richard E. Pratley, Jane Jeffrie Seley, Robert C. Stanton, Robert A. Gabbay; on behalf of the American Diabetes Association, 14. Children and Adolescents: Standards of Care in Diabetes—2023. Diabetes Care 1 January 2023; 46 (Supplement_1): S230–S253.