Ressonância magnética ajuda na estratificação dos doentes com Miocardiopatia Chagásica?

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A doença de Chagas afeta 5,7 milhões de pessoas na América Latina com importante impacto econômico, principalmente devido à perda de produtividade derivada da mortalidade precoce relacionada à cardiomiopatia. A cardiomiopatia chagásica desenvolve-se em aproximadamente 1/3 dos pacientes com doença de Chagas, com prognóstico pior que as cardiopatias isquêmica e as outras causas de miocardiopatia não isquêmicas. A fibrose miocárdica detectada pela ressonância cardíaca pela técnica do realce tardio é um marcador independente de risco em várias outras cardiomiopatia. Estudos prévios de ressonância magnética cardíaca (RMC) em pacientes com cardiomiopatia chagásica mostraram que a fibrose está associada à disfunção do VE, sintomas de insuficiência cardíaca e gravidade da doença e que a extensão da fibrose se correlaciona com o escore de risco de Rassi e com a ocorrência de taquicardia ventricular. Este mês foi publicado no JACC um estudo brasileiro que avaliou a fibrose miocárdica determinada pela RMC em pacientes com Miocardiopatia Chagásica como marcador prognóstico. Foram incluídos pacientes que tinham avaliação prévia com ressonância e o follow-up clínico foi obtido de maneira retrospectiva.

ENDPOINTS:

  • Desfecho primário: Desfecho composto - mortalidade por todas as causas, transplante cardíaco, estimulação de mecanismo anti taquicardia / choque apropriado de CDI ou morte súbita abortada.
  • Desfecho secundário: Mortalidade por todas as causas.

RESULTADOS

- Foram incluídos 130 pacientes; média de idade 53,6 ± 11,5 anos; 53,9% do sexo feminino. A maioria dos pacientes não apresentou sintomas de ICC ou arritmia. Na RMC, foi frequente o achado de dilatação e a disfunção do ventrículo esquerdo.

  • Fibrose pela RMC foi encontrada em 76,1% dos pacientes, com massa de fibrose (MF) média de 15,2 ± 16,5 g. Em um follow-up de de 5,05 anos, 58 (44,6%) dos pacientes atingiram o desfecho combinado e 45 (34,6%) pacientes morreram.
  • A massa de fibrose foi um bom preditor do desfecho combinado (área sob a curva: 0,79; IC 95%: 0,72 a 0,87; sensibilidade 69%; especificidade 69%; melhor valor de corte 12,3 g) e para mortalidade por todas as causas (área sob a curva: 0,71; IC95%: 0,62 a 0,79; sensibilidade de 64%; especificidade de 64%; melhor valor de corte de 12,5 g) de acordo com a análise da curva ROC.
  • Na análise multivariada, observa-se que a fibrose miocárdica pela RMC foi preditor dos desfechos primário e secundário, independente do escore de risco de Rassi.

CONCLUSÃO:

Fibrose detectada pela técnica de realce tardio pela RMC é um preditor independente de eventos em pacientes com Miocardiopatia Chagásica.

COMENTÁRIOS:

- O estudo confirma o papel prognóstico da avaliação de fibrose pela RMC na Cardiomiopatia Chagásica. Vários estudos prévios demonstram que este método é um excelente marcador de eventos em pacientes com miocardiopatia.

- A avaliação de fibrose pela RMC pode contribuir na melhor estratificação de risco e guiar a terapêutica de pacientes com Miocardiopatia Chagásica.

Dica para provas:

  • O escore de Rassi vez por outra é solicitado em concursos. Contudo, a maioria das pessoas acha difícil decorá-lo. Para isso criamos um mnemônico que pode ser visto neste post.

Fonte:

Senra T, Ianni BM, Costa ACP, et al. Long-term prognostic value of myocardial fibrosis in patients with chagas cardiomyopathy. J Am Coll Cardiol 2018;72:2577–87.