10 dicas de geriatria que todo médico deveria saber

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10 dicas de geriatria que todo médico deveria saber

É cada vez mais comum nós cardiologistas atendermos pacientes idosos. Isto se deve ao aumento da sobrevida em geral da população e ao acúmulo de comorbidades cardiovasculares em pacientes idosos. Pensando nisso, compartilhamos aqui o excelente texto escrito pelo geriatra Daniel Gomes (editor do perfil @Envelhecer com Saúde) sobre 10 dicas de geriatria que todo médico deveria saber:

  1. Estabeleça com o paciente e família quais são as prioridades. Determine sempre os objetivos do cuidado (GOALS OF CARE). Faça isso rotineiramente, e não deixe pra tocar nesse assunto apenas quando a condição clínica estiver muito deteriorada.
  2. JAMAIS tome decisões (fazer ou não exame, procedimento, cirurgia, medicamento, etc) baseado apenas na IDADE CRONOLÓGICA. Idade avançada por si só não contraindica nada. O pessoal da geriatria já está bem acostumado com esse conceito mas muitas vezes outros especialistas ainda focam muito na idade cronológica do paciente e não no aspecto funcional. Por outro lado, não solicite testes de rastreios (mamografia, colonoscopia, PSA, etc) sem antes considerar expectativa de vida e riscos relacionados ao diagnóstico e tratamento.
  3. Avalie SEMPRE a FUNCIONALIDADE do seu paciente idoso, em todas as consultas. Funcionalidade é o melhor termômetro da saúde do idoso e parâmetro mais importante para prever prognóstico. Declínio funcional deve sinalizar que algo de errado está acontecendo.
  4. NENHUMA DOENÇA deve ser atribuída exclusivamente à idade. No máximo, a idade avançada torna o idoso mais vulnerável/susceptível a um agravo. Entenda a diferença entre COMUM e NORMAL. O que é comum no idoso não é, necessariamente, normal pra ele. Exemplo: hipertensão sistólica isolada é muito prevalente nessa faixa etária. Mas não pode ser considerada normal e deve ser tratada.
  5. MULTIFATORIAL é a regra, e não a exceção. Como assim? No idoso, diferente do jovem, um problema (síndrome, sintoma) normalmente é causado por VÁRIOS FATORES (doenças). No jovem, é o contrário. Vários sintomas habitualmente são causados por um único fator (doença)
  6. EFEITO COLATERAL de drogas deve SEMPRE ser lembrado. Diante de um sintoma novo no idoso, avaliar se alguma droga foi recentemente iniciada, aumentada a dose ou descontinuada.
  7. REVISE SEMPRE a lista de MEDICAMENTOS do seu paciente idoso. O que foi útil ou indicado no passado, pode não ser mais agora. POLIFARMÁCIA no idoso é um grande problema. Em toda a consulta, avalie a possibilidade de suspender ou reduzir dose de alguma droga (DEPRESCRIÇÃO). Se sabemos pouco de efeitos colaterais, sabemos ainda menos de interação medicamentosa e interação droga-doença.
  8. Esteja atento às MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS de doenças. Sim, elas acontecem numa frequência muito maior nos idosos e são frequentemente responsáveis por erros ou atrasos no diagnóstico. Por exemplo, não deixe passar batido o diagnóstico de delirium, especialmente o delirium hipoativo (60% dos casos não são diagnosticados). Delirium muitas vezes é a ponta do iceberg de um grande problema.
  9. Avalie criteriosa e cautelosamente as recomendações que constam nas DIRETRIZES de sociedades médicas. Elas são muito importantes pois servem como norte. Mas devemos lembrar que são baseadas, na maioria das vezes, em estudos que excluíram pacientes muito idosos e/ou frágeis, e/ou multimórbidos e/ou com polifarmácia. Assim, os resultados obtidos não podem ser exatamente extrapolados para o seu paciente específico. Portanto, use o bom senso e tome condutas individualizadas à realidade do paciente que está à sua frente.
  10. START SLOW, GO SLOW, BUT GO. Claro, esse conhecido axioma muito usado na geriatria não podia ficar de fora dessa lista. Idosos costumam ser mais sensíveis aos efeitos de drogas. Portanto, normalmente devemos começar tratamentos com doses mais baixas e progredir mais lentamente. Por outro lado, um erro frequente é não tentar progredir até a dose-alvo. Subdoses podem acarretar em respostas terapêuticas insatisfatórias.