Você já ouviu falar sobre insuficiência cardíaca com fração de ejeção supra normal?

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Recentemente, um novo fenótipo de insuficiência cardíaca tem sido descrito e proposto em alguns estudos: a insuficiência cardíaca com fração de ejeção supra normal (ICFEsn). Esse conceito foi inicialmente descrito em 2019 em um artigo publicado no European Heart Journal, que analisou mais de 400 mil ecocardiogramas e observou uma relação em formato de "U". O menor risco de mortalidade foi identificado em pacientes com fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) entre 60-65%, enquanto a taxa de risco ajustada para mortalidade foi de 1,71 para pacientes com FEVE ≥ 70% e de 1,73 para aqueles com FEVE entre 35-40%. Esses achados foram independentes da idade, sexo ou outras comorbidades relevantes, como presença de insuficiência cardíaca.

O reconhecimento desse possível fenótipo pode expor uma lacuna na classificação tradicional da insuficiência cardíaca, que atualmente considera apenas insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (ICFEr), levemente reduzida (ICFElr) e fração de ejeção preservada (ICFEp).

Evidências e características do fenótipo ICFEsn

Estudos recentes sugerem que a ICFEsn está frequentemente associada à disfunção microvascular, hipertrofia cardíaca e alterações na geometria do ventrículo esquerdo. Essa condição foi mais prevalente em mulheres e está relacionada a níveis mais altos de ureia e menores níveis de peptídeos natriuréticos. Além disso, pacientes com ICFEsn são tratados com β-bloqueadores com menor frequência.

A fisiopatologia da ICFEsn ainda não é completamente compreendida, mas acredita-se que possa estar relacionada à disfunção diastólica, rigidez ventricular e alterações na reserva de fluxo coronariano, especialmente em mulheres. Pacientes com essa condição geralmente têm ventrículos menores e um índice de volume sistólico baixo, o que pode resultar em hipercontratilidade compensatória e maior risco de eventos cardiovasculares adversos a longo prazo.

 

Importância e implicações clínicas

O reconhecimento do fenótipo ICFEsn abre portas para novas pesquisas dentro da insuficiência cardíaca. Talvez, esse fenótipo passe a ser entendido como um subgrupo específico dentro da ICFEp que identifica pacientes com prognóstico pior em comparação com outros.

Embora os dados sobre a ICFEsn sejam limitados e ainda não completamente definidos, estudos futuros deverão esclarecer melhor as implicações dessa condição e orientar estratégias de tratamento mais eficazes.

 

Referências:

1.  Wehner, Gregory J et al. “Routinely reported ejection fraction and mortality in clinical practice: where does the nadir of risk lie?.” European heart journal vol. 41,12 (2020): 1249-1257. doi:10.1093/eurheartj/ehz550.

2.  Huang, Z., Jiang, Y., Zhou, Y. (2021). Heart Failure with Supra-normal Left Ventricular Ejection Fraction – State of the Art. Arq Bras Cardiol. 116(5):1019-1022. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20190835.

3.  Ono, R., Falcão, L. M. (2023). Supra-Normal Left Ventricular Function: A New Category in Heart Failure. Am J Cardiol. 207:84−92. DOI: https://doi.org/10.1016/j.amjcard.2023.08.169.