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Vitamina D não parece reduzir risco de infecção respiratória: novos dados

Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
27/2/2025

Alguns estudos observacionais têm demonstrado uma associação entre deficiência de vitamina D e maior risco de infecção respiratória aguda (definida como qualquer infecção do trato respiratório com sintomas durando até 21 dias). Associado ao conhecimento biológico de que os metabólitos da vitamina D auxiliam na resposta imune aos vírus respiratórios, estes dados motivaram a realização de ensaios clínicos randomizados que objetivaram avaliar se a suplementação de vitamina D reduziria o risco de infecção respiratória aguda (IRA). Os resultados destes ensaios, foram, no entanto, contraditórios.
Em 2021, uma metanálise que incluiu 43 destes ensaios clínicos concluiu que a suplementação de vitamina D tem um efeito protetivo modesto contra IRA. As doses de vitamina D variaram de 400 a 1000 UI/dia, o tempo médio de seguimento foi de 12 meses e os pacientes tinham entre 1 e 15 anos de idade. Não à toa, a Endocrine Society indicou, em seu guideline publicado em 2024, a suplementação empírica de vitamina D em todos os indivíduos entre 1 e 18 anos de idade, tendo como uma das justificativas a redução do risco de infecção respiratória.
No entanto, outros 6 ensaios clínicos, incluindo 19.337 participantes, foram realizados após a publicação de 2021, o que motivou os autores a atualizarem a referida metanálise. Os novos dados foram combinados com os 43 ensaios clínicos prévios, totalizando 61.589 participantes. E o resultado encontrado agora foi o inverso do relatado previamente.
Comparado ao placebo, a suplementação de vitamina D não diferiu em relação à ocorrência de IRA. Os autores também avaliaram se o efeito da vitamina D poderia variar de acordo com os níveis basais de 25-hidroxivitamina D, com o esquema de suplementação (dose, frequência e duração) e com a idade. Mas não houve nenhuma diferença em nenhum subgrupo analisado.
Os autores, portanto, concluíram, com esta nova metanálise, que a vitamina D não demonstrou qualquer efeito protetivo em relação ao risco de infecção respiratória. Este resultado põe ainda mais em xeque a recomendação da Endocrine Society de suplementação empírica para todo indivíduo entre 1 e 18 anos de idade. O guideline, que já foi publicado envolto por polêmicas, ganha mais um argumento desfavorável.
Referência: Jolliffe DA, Camargo CA Jr, Sluyter JD, et al. Vitamin D supplementation to prevent acute respiratory infections: systematic review and meta-analysis of stratified aggregate data. Lancet Diabetes Endocrinol. 2025:S2213-8587(24)00348-6.