Vigilância ativa no câncer de tireoide

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O câncer de tireoide é a neoplasia endócrina mais comum, com uma estimativa de 44.280 casos em 2021. É o câncer mais comum entre adolescentes e adultos jovens e o sétimo mais comum entre as mulheres em geral. Mais de 95% dos casos são classificados como carcinoma diferenciado de tireoide (CDT), dos subtipos papilífero (70-90%) ou folicular (10-20%). O CDT localizado está associado a um prognóstico altamente favorável, com sobrevida em 5 anos acima de 98%. Nos últimos 30 anos a incidência de câncer de tireoide quase triplicou, porém a mortalidade se mantem estável, sugerindo maior detecção de casos de baixo risco.

O tratamento padrão para o CDT tem sido a cirurgia (tireoidectomia total ou lobectomia). O procedimento não é isento de potenciais morbidades, como hipotireoidismo, hipoparatireoidismo e lesão do nervo laríngeo recorrente. Nesse contexto, a vigilância ativa tem sido proposta como alternativa no câncer de tireoide de baixo risco, com a intervenção cirúrgica sendo realizada nos casos de progressão.

Diante do surgimento de novas evidências, a American Thyroid Association (ATA) publicou uma recente revisão sistemática sobre o tema. Nos dados apresentados não houve casos de mortalidade em CDT de baixo risco submetidos à vigilância ativa. As taxas de crescimento tumoral foram baixas. As indicações de intervenção cirúrgica ocorreram principalmente devido à preferência do paciente e não pela progressão do tumor. Os autores concluem que em pacientes com CDT de baixo risco, vigilância ativa e cirurgia imediata não diferiram em relação à mortalidade, risco de recorrência e outros desfechos, porém ressaltam que os estudos disponíveis apresentam importantes limitações metodológicas (não existe nenhum estudo randomizado, por exemplo).

Autores brasileiros também debateram o tema. A vigilância ativa seria melhor indicada para tumores pequenos (principalmente se < 1cm) associados a critérios como: idade > 40 anos, tumor único, não adjacente à traqueia ou nervo laríngeo recorrente e ausência de extensão extratireoidiana e metástases para linfonodos ou à distância. Um grande limitante seria a dificuldade no acompanhamento adequado desses casos. Considerando a disparidade no acesso à saúde no Brasil, centros acadêmicos de referência deveriam liderar a implementação dessa rotina. A extensão para o sistema de saúde em todo o país depende da divulgação de informação adequada para médicos e pacientes e da garantia de suporte adequado.