Vale a pena fazer hipotermia após parada cardíaca?

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Vale a pena fazer hipotermia após uma parada cardiorrespiratória? Essa pergunta é antiga e já tentou ser respondida por vários trabalhos os quais tiveram resultados heterogêneos. Apesar de alguns estudos iniciais terem mostrado benefício, seguiram-se outros que mostraram efeito neutro desta conduta. Uma parte dos especialistas passou a defender que o mais importante não seria a indução de hipotermia, mas sim a prevenção de hipertermia. De toda forma, é um assunto que ainda suscita dúvidas no dia a dia.

Recentemente foi publicado o estudo Capital Chill. Nesse estudo, foi comparada uma estratégia de controle de temperatura média de 31º C versus 34º C (indicada em diretriz) em pacientes pós-PCR. O estudo foi unicêntrico, duplo-cego e randomizado, com desfecho primário sendo um composto entre morte e grau de disabilitação neurológica em 180 dias.

No total, foram incluídos 367 pacientes. O desfecho primário foi observado em 48,4% dos pacientes no grupo 31º C versus 45,4% no grupo 34º C (RR=1,07; IC 95%: 0,86 – 1,33). No grupo de 31º C, o tempo de UTI foi mais prolongado (10 verus 7 dias, p = 0,004). Todos os outros eventos analisados foram similares entre os grupos.

Dessa forma, mais uma vez, esse estudo falhou em mostrar superioridade na estratégia de hipotermia com controle mais restrito em pacientes comatosos após parada cardiorrespiratória. Por enquanto, seguimos a recomendação ainda mantida em diretriz de controle de temperatura próximo a 34º C, evitando hipertermia e lembrando de agir em todos os aspectos clínicos do doente crítico como ventilação, hemodinâmica e busca pelo fator causal.

Referência: JAMA. 2021;326(15):1494-1503. doi:10.1001/jama.2021.15703