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Uso de betabloqueadores em pré-operatório
Escrito por
Fernando Figuinha
Publicado em
16/8/2013
O uso de betabloqueadores na proteção cardiovascular perioperatória visando a redução do risco de morte, até há pouco tempo consensual, tornou-se tema controverso na Cardiologia. Um dos fatores que levou ao questionamento foi a descoberta de dados inconsistentes dos principais estudos que sustentavam esta conduta (DECREASE I e demais estudos da série).
Nova metanálise na qual estes estudos foram excluídos da compilação dos dados e publicada recentemente no Heart, reforça a tese do não-benefício do uso dos betabloqueadores, mostrando inclusive um risco relativo (RR) de 27% de morte, em comparação ao placebo.
Foram avaliados os dados referentes a 10529 pacientes de 9 estudos considerados seguros (incluindo-se o estudo POISE, principal parâmetro para as últimas diretrizes publicadas); paralelamente, 592 pacientes dos estudos DECREASE I e DECREASE IV, e comparados os resultados de ambas compilações.
Observou-se na metanálise, como já citado, um RR: 1,27 (1,01-1,60) para morte perioperatória no grupo dos betabloqueadores, enquanto na análise dos estudos da série DECREASE, um RR: 0,42 (0,15-1,23). Na análise de desfechos secundários não houve diferença entre as duas análises, mostrando ambos incidência diminuída no IAM não-fatal, aumentada na hipotensão e tendência ao aumento no AVC não-fatal.
Segundo os autores, as principais limitações do estudo encontram-se na heterogeneidade dos tipos de cirurgias realizadas (pois não podemos determinar se algum grupo específico se beneficiaria do uso dos betabloqueadores) e a grande influência do estudo POISE (que por sua vez, também apresenta grande influência dos estudos da série DECREASE), pelo número mais significativo de pacientes avaliados se comparado aos demais estudos levantados pela metanálise.
Como conclusão, os autores questionam as atuais diretrizes e suas indicações do uso de betabloqueadores no perioperatório pelas mesmas, e sugerem o não uso de rotina, exceto naqueles pacientes com características semelhantes a estudos conduzidos honestamente e com resultados confiáveis.
Referência: Bouri S, et al. Heart 2013;0: 1-9.
Autor:
Dr. Fábio Lourenço Moraes
Clínica médica e Cardiologia pela UNIFESP - EPM.