Tratamento das cicatrizes atróficas com insulina subcutânea

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As cicatrizes de acne têm um impacto negativo na qualidade de vida e levam a sentimentos de vergonha e baixa autoestima.  A destruição dos componentes da matriz extracelular (EMC) no início das lesões acnéicas é um dos fundamentos para a resultante atrofia das cicatrizes. Este padrão de cicatrizes foi classificado nos três tipos básicos por Jacob et al.: icepick (<2 mm, se afunila conforme se estende a derme profunda), rolling ( 4-5mm, bordas inclinadas e rasas) e boxcar ( 1,5-4mm – depressões redondas a ovais com limites verticais bem demarcados).

Evidências da literatura sugerem o papel da insulina na regulação do metabolismo energético, síntese de proteínas, diferenciação e no crescimento celular. Assim, a sua injeção local promove o crescimento e desenvolvimento de tecido de granulação, com consequente cicatrização.

Sua administração tópica foi descrita em modelos animais e ensaios clínicos.  A aplicação local de insulina evita a repercussão sistêmica mantendo sua ação benéfica sobre a cicatrização local. Liu et al. observaram que a insulina age por meio de seus receptores, auxiliando na migração dos queratinócitos nas feridas sem interação com os receptores do fator de crescimento epidérmico. Acredita-se que seu efeito seja mediado pela ação direta em fibroblastos e queratinócitos, células nas quais se identificou a presença do receptor de insulina.

Sabe-se que a insulina estimula a incorporação de (3H) timidina nos fibroblastos da pele, resultando na síntese de colágeno. Topicamente, acelera a cicatrização de feridas no diabetes aprimorando as vias proteína quinase B (AKT) e quinase regulada extracelularmente (ERK). Supõe-se que ela utilize estas duas vias para aumentar a reparação.  Ao se conectarem no receptor, as tirosinas intracelulares localizadas nas subunidades-b deste são fosforiladas e permitem que a proteína da homologia Src 2/a-relacionada ao colágeno (SHC), encontrada no citosol, se ligue por meio dos domínios da homologia-Src-2. O sinal é transduzido por meio de uma série de moléculas mensageiras para ativar Ras (membro de uma grande família de proteínas de ligação a GTP de pequeno peso molecular) e transmitido via Raf, MEK (membros da família das proteínas de ligação ao GTP) e ERK. Esta se transloca ao núcleo onde a célula recebe o comando de replicar o DNA e proliferar, com consequente reparo de tecidos e cicatrização de feridas. Na outra via, o substrato 1/2 do receptor insulínico se liga a ele e transduz o sinal via PI(3)-quinase, PDK e AKT. Tal reação induz à produção de NO (óxido nítrico), ao aumento do fluxo sanguíneo, à maior sobrevivência celular, morfogênese e angiogênese. O aumento da fosforilação de GSK-3β (glicogênio sintase quinase-3β) por AKT diminui sua atividade, podendo ser outro mecanismo para elevar a produção de colágeno, reduzir apoptose e acelerar o fechamento de feridas.

Por meio do fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), ocorre o estímulo à produção de componentes da matriz extracelular22 e indução do fator de transformação do crescimento beta (TGF-β) nos fibroblastos dérmicos, corroborando a cicatrização de feridas,.

Corrêa e Alves (2020) demonstraram a eficácia do uso tópico da insulina em cicatrizes atróficas causadas pela acne em humanos. A técnica utilizada foi por meio de um superficial microagulhamento com até 15UI de insulina NPH (Neutral Protamine Hegedorn) dependendo da extensão da lesão. Após observarem um bom resultado, foi aplicada em toda a área da cicatriz.  

Protocolo

•Após antissepsia e marcação da região, aplicamos insulina NPH 5 unidades diluída em 1 mL, de sora fisiológico 0,9% nos planos dérmico e subdermico, na metade superior.

Após anestesia infiltrativa de lidocaína 2% com vasoconstrictor, realizamos microagulhamento com caneta, através do manuseio por movimentos retilíneos, na profundidade de 2,5 mm, com ponteira de 7 agulhas, na metade inferior.

Insulina NPH 100Ul

0,01 ml/ponto intralesional (e periférico) repetidas vezes (de acordo com o tamanho da lesão)

qualquer intervalo de tempo entre as sessões

Os Autores afirmam que não houve efeitos adversos, mas que são necessários mais estudos sobre o assunto.

Referências:

Surg Cosmet Dermatol. Rio de Janeiro v.12 (S2); dez. 2020 p. 184-7