Tratamento Da Queilite Actínica: Pontos De Revisão Sistemática

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Por Cláudia Ferraz

Não há um consenso sobre o tratamento da queilite actínica. Diversas opções estão disponíveis na prática do dermatologista e incluem terapia fotodinâmica (TFD), crocirurgia, ablação com laser de CO2, eletrocirurgia, aplicações tópicas de 5-fluoracila, imiquimode diclofenaco a 3% com ácido hialurônico a 2,5%, além de cauterização com ácido tricoloroacético. Ainda faltam estudos que comparem a eficácia destes tratamentos o que resulta em evidências de alta qualidade para orientar a decisão terapêutica.

Uma Metanálise publicada em 2020 avaliou a eficácia clínica e taxa de recorrência das múltiplas formas de tratamento da queilite actínica. Desfechos secundários incluíram a presença de eventos adversos (EA) e tempo de cicatrização.

De 843 áreas tratadas, 25,1% obtiveram resposta parcial, com resolução na quase totalidade da parcela restante, má resposta ou piora clínica apenas em número muito limitado de casos. A taxa de recorrência global ficou em 11%. Os eventos adversos mais comumente relatados foram dor, eritema, edema e sensação de queimação. As reações cicatriciais foram leves. Dor foi um sintoma presente especialmente naqueles pacientes tratados cm TFD e laser. O resultado cosmético final foi considerado excelente em mais de 75% dos casos. O tempo médio de cicatrização encontrado foi de 2,8 semanas.

A revisão sistemática demonstrou que as maiores taxas de resposta completa foram relatadas com o uso da cirurgia parcia e terapia a laser isoladamente ou em combinação com TFD, seguidas da TFD isolada, imiquimode, 5-fluoracila

Pontos que chamaram atenção:

- A TFD apresentou taxa de resposta completa relativamente mais baixa que as demais terapias (68,9%).

- A terapia a laser (ablativo - a maioria com laser de CO2) pareceu se a melhor abordagem, com 93,8% de eficácia e apenas 6,0% de recorrência.

- O Diclofenaco sódico em acido hialurônico mostrou resposta completa em apenas 45,2% dos pacientes e com 40% dos casos com má resposta.

- O uso sequencial de duas ou mais terapias diferentes parece aumentar sinergicamente a eficácia de cada uma. O tratamento com TFD e imiquimode sequencial está associado a melhor taxa de resposta, possivelmente por terem mecanismos de ação distintos.

- Os tratamentos foram bem tolerados, com poucos eventos adversos e excelente resultado cosmético na grande maioria dos casos.

- A fala de padronização da reposta histológica e biópsia pós-tratamento, realizadas em intervalos distintos, inviabilizam a correlação exata da resposta clínica entre os diversos tratamentos.

- Limitações desta revisão devem-se ao pequeno número de casos da cada terapia, heterogeneidade dos estudos e pequeno tamanho da amostra de cada um deles. Não houve trabalhos envolvendo uso de criocirurgia. Não há evidências suficientes para recomendar qualquer tratamento em particular, sendo necessários estudos maiores randomizados e controlados para avaliar a edicácia e segurança dos tratamentos para queilite actínica.

- Diante do resultado global, fica o alerta de que em torno de 25% dos pacientes não apresentem reposta completa e precisão de uma nova abordagem terapêutica. E que não devemos adiar o tratamento pelo receito de eventos adversos já que estes foram presentes em 11% dos pacientes, de intensidade moderada. Logo, não deixemos de tratar esta condição!

Referência:

Lai M, Pampena R, Cornacchia L, Pellacani G, Peris K, Longo C. Treatments of actinic cheilitis: A systematic review of the literature. J Am Acad Dermatol. 2020 Sep;83(3):876-887. doi: 10.1016/j.jaad.2019.07.106. Epub 2019 Aug 7. PMID: 31400450.