Tratamento da Febre Reumática: Abordagens Atualizadas

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A febre reumática (FR) é uma condição inflamatória grave que exige um manejo clínico completo e cuidadoso. O objetivo do tratamento inicial é reduzir o processo inflamatório sistêmico, aliviar os sintomas, proteger o coração contra danos estruturais e evitar novas ocorrências por meio de profilaxia adequada.

Abaixo, discutimos as principais intervenções terapêuticas e as recomendações para profilaxia.

Tratamento das Manifestações Clínicas

1. Artrite

A artrite reumática é tratada principalmente com anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), como naproxeno (10-20 mg/kg/dia) e ibuprofeno (30-40 mg/kg/dia), que possuem um perfil de segurança superior ao da aspirina (AAS). A aspirina, embora menos recomendada, ainda pode ser usada em casos específicos.

2. Cardite

Em casos de cardite moderada a grave, indicam-se glicocorticoides, como prednisona (2 mg/kg/dia), por cerca de 12 semanas. Nos casos leves, o uso de glicocorticoides é controverso e deve ser avaliado caso a caso. Em situações de insuficiência cardíaca, recomenda-se o uso de diuréticos para alívio dos sintomas, podendo-se associar inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) em alguns casos.

3. Coreia de Sydenham

A coreia moderada ou grave pode ser tratada com agentes como haloperidol (0,5-5 mg/dia) ou carbamazepina, com a possibilidade de inclusão de glicocorticoides em casos mais resistentes.

Profilaxia da Febre Reumática

A profilaxia é dividida em duas etapas: a profilaxia primária, que busca erradicar a infecção estreptocócica inicial, e a profilaxia secundária, destinada a evitar recorrências e complicações cardíacas.

Profilaxia Primária

A profilaxia primária envolve a eliminação do estreptococo do grupo A com o uso de antibióticos. Abaixo, uma tabela com os principais agentes farmacológicos utilizados:

Agente Farmacológico                                                               Esquema Terapêutico

Penicilina G benzatina                                                                       600.000 UI (< 20 kg) ou 1.200.000 UI (> 20 kg), dose única IM

Amoxicilina                                                                                          50 mg/kg/dia, dividido em 2-3 doses, por 10 dias

Penicilina V                                                                                          250 mg (crianças) ou 500 mg (adolescentes), 2-3 vezes ao dia, por 10 dias

Eritromicina                                                                                          20-40 mg/kg/dia, dividido em 2-4 doses, por 10 dias

Azitromicina                                                                                         12 mg/kg/dia, uma vez ao dia, por 5 dias (máximo 500 mg)

Clindamicina                                                                                         20 mg/kg/dia, dividido em 3 doses (máximo 300 mg/dose), por 10 dias

Claritromicina                                                                                        15 mg/kg/dia, dividido em 2 doses, por 10 dias

Profilaxia Secundária

A profilaxia secundária é essencial para prevenir novos surtos e evitar o agravamento de lesões valvares cardíacas. O agente de escolha para essa profilaxia é a penicilina G benzatina, administrada a cada 21 dias. A duração da profilaxia varia conforme o grau de comprometimento cardíaco. A tabela a seguir apresenta as recomendações de duração para a profilaxia secundária:

Situação Clínica                                                                                           Duração da Profilaxia Secundária

FR sem cardite prévia                                                                                          Até os 21 anos ou por 5 anos após o último surto (o que durar mais)

FR com cardite leve ou insuficiência mitral resolvida                                      Até os 25 anos ou por 10 anos após o último surto (o que durar mais)

Lesão valvar residual moderada a grave                                                          Até os 40 anos ou por toda a vida

Após cirurgia valvar                                                                                             Profilaxia por toda a vida

O tratamento da febre reumática visa reduzir as manifestações agudas e prevenir as complicações cardíacas a longo prazo. A adesão às diretrizes de tratamento e profilaxia é fundamental para garantir a recuperação dos pacientes e evitar recorrências.  

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

Sociedade Brasileira de Pediatria (2024). Febre Reumática: Diagnóstico, Tratamento e Profilaxia. Documento Científico do Departamento de Reumatologia (Gestão 2022-2024). Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/24640b-DC_-_Febre_reumatica-diagn_tratam_profilaxia.pdf. Acesso em 20 de outubro de 2024.