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Transtorno de déficit de atenção: o que o cardiologista tem que ficar atento?
Escrito por
Carlos Frederico Costa Lopes
Publicado em
4/9/2020
Embora a prevalência global do Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) tenha se mantido estável nas últimas 3 décadas, entre adultos americanos o diagnóstico aumentou em 123% e a prescrição de estimulantes simpaticomiméticos em 344%, entre 2003 e 2015, elevando assim o número de pessoas expostas aos efeitos colaterais dessas medicações. Em publicação recente publicado no JACC (1), as alterações cardiovasculares foram revisadas, e os principais pontos desse artigo nós apresentaremos aqui.
De forma geral, essas substâncias exercem efeitos estimulantes no sistema nervoso central por aumentar os níveis de noradrenalina e dopamina no córtex pré-frontal e estimula receptores adrenérgico no coração e nos vasos sanguíneos levando a aumento da rigidez arterial, vasoconstrição, aumento da frequência cardíaca de repouso e da pressão arterial.
Uma metanálise de 10 estudos clínicos mostrou um aumento médio de 5,7 batimentos por minuto da frequência cardíaca e uma elevação de 2 mmHg na pressão arterial. Por exemplo, o uso do metilfenidato tem sido associado a um aumento de 4 vezes na chance de um adulto normotenso de desenvolver pré-hipertensão.
Apesar de não existirem dados definitivos da associação do uso dessas drogas com eventos adversos clínicos ou aumento de mortalidade, tem sido descrito uma maior chance de taquiarritmias, hipertensão, cardiopatia de Takotsubo, cardiopatia associada a anfetamina, infarto agudo do miocárdio e morte súbita. Uma importante observação é que a maioria dessas informações foram obtidas em estudos com crianças, ao passo que para adultos, particularmente mais idosos, que seria uma população mais vulnerável aos efeitos colaterais, os dados são escassos. Apenas para ilustrar, em um estudo com idosos, houve o aparecimento de 1 caso de insuficiência cardíaca para cada 10.5 pessoas-ano de uso de estimulantes, sendo que os sintomas já apareceram nos primeiros 90 dias do uso dos medicamentos.
O que propor então para o meu paciente com o diagnóstico de TDAH que de repente se apresenta com episódios de palpitações, ou hipertensão de mais difícil controle ou nova, ou sintomas de insuficiência cardíaca?
Além do natural diagnóstico diferencial e da confirmação posterior que essas alterações podem estar relacionadas com as medicações, a parceria com o médico assistente que está conduzindo o caso é fundamental, para se propor redução das doses ou mesmo a suspensão dos estimulantes e reforço nas terapias adjuvantes atualmente propostas no tratamento do TDAH, como programa de exercícios físicos. O artigo de revisão também menciona evidências de possível benefício do uso de ômega 3 nesse cenário. Segue fluxograma adaptado do artigo.