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O anticorpo anti-receptor do TSH (TRAb) tem um papel central na fisiopatologia da Doença de Graves (DG), sendo útil, na prática clínica, tanto para o diagnóstico diferencial das causas de hipertireoidismo quanto para a toma de decisão em relação à conduta terapêutica, como já comentado em outro post. Mas há também utilidade da dosagem do TRAb na gestação em algumas situações específicas como as comentadas a seguir.
A primeira utilidade é na distinção da etiologia do hipertireoidismo evidenciado durante a gestação. No caso da DG, ele estará positivo, enquanto no hipertireoidismo transitório da gestação (condição causada pelo excesso de beta-HCG hiperestimulando a tireoide), ele estará negativo.
Outra utilidade do TRAb na gestação é quando a mulher, sabidamente, já apresentava história de DG antes de engravidar. Se este for o caso, a solicitação do TRAb estará indicada nas seguintes situações, de acordo com a diretriz da ATA:
- Mulheres grávidas com DG ainda ativa em tratamento com tionamida
- Mulheres grávidas com história prévia de DG tratada com radioiodo ou cirurgia
- Mulheres grávidas com história de recém-nascido com hipertireoidismo
De acordo com a diretriz citada, no caso de mulheres que entraram em remissão da DG com o uso prévio de tionamidas, a dosagem do TRAb durante a gestação não é necessária. Isto porque esta remissão envolve o controle dos níveis circulantes do anticorpo, presumindo-se que, se ela continua eutireoidea, o TRAb continua negativo.
Já naquelas que entraram em remissão com radioiodo ou com cirurgia, o controle do hipertireoidismo foi atingido pela destruição ou remoção do tecido tireoidiano, de forma que o TRAb pode ainda continuar positivo.
Nas referidas indicações, o TRAb deve ser dosado já no primeiro trimestre. Caso negativo, sua repetição não se faz mais necessária, pois a história natural do anticorpo durante a gestação é a sua negativação.
Mas, se positivo, no primeiro trimestre, ele precisa ser repetido no segundo trimestre, entre 18 a 22 semanas. De novo, se negativo, o rastreio é interrompido. Se ainda positivo, nova dosagem deve ser realizada no terceiro trimestre entre 30 e 34 semanas.
E qual o significado do TRAb positivo durante a gestação? Há risco de sua passagem pela barreira placentária para o feto, de modo a poder levar a DG fetal e/ou neonatal. Desta forma, a positividade do TRAb na mãe indica a necessidade de uma maior atenção pela equipe multidisciplinar que acompanha a mulher e o feto.
O obstetra deve vigiar sinais de hipertireoidismo fetal, como taquicardia, bócio e retardo do crescimento intra-uterino. O neonatologista, da mesma forma, deve ser alertado caso o TRAb ainda seja positivo no terceiro trimestre, devendo procurar por sinais e sintomas de hipertireoidismo no recém-nascido.