Tirzepatida x Semaglutida: mais um round da disputa

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A glicose ingerida por via oral resulta em uma maior secreção de insulina em comparação com sua administração venosa em quantidade equivalente.Esse conhecido “efeito incretínico”, se deve à ação de peptídeos intestinais,particularemente o peptídeo similar ao glucagon do tipo 1 (GLP1) e o polipetídeo insulinotrópico dependente de glicose (GIP). Os análogos desses peptídeos, com destaque para a semaglutida e a tirzepatida, vêm revolucionando o tratamento do diabetes tipo 2 (DM2) e da obesidade, demonstrando resultados outrora impensáveis em diversos estudos clínicos. Mas nessa disputa, existe um melhor agente incretínico?

No estudo SURPASS-2, a tirzepatida acabou levando a maiores reduções de peso corporal e de HbA1c. O estudo foi em pacientes com DM2 e a semaglutida foi usada na dose de 1mg semanal, dose máxima recomendada nesse grupo de pacientes. Em outro estudo de mundo real, envolvendo mais de 18 mil indivíduos, os resultados se repetiram, com a tirzepatida levando a maior redução percentual do peso após 12 meses (-15,2% versus -7,9%).

Recentemente, um novo estudo publicado no JCEM trouxe mais dados para essa disputa. Foram avaliados parâmetros indicativos de função de célula beta (glicemia de jejum, taxa de secreção de insulina, sensibilidade insulínica e relação insulina/glucagon estimada) durante clamp euglicêmico e teste de refeição mista, antes e após 28 semanas de tratamento com tirzepatida, semaglutida ou placebo, em 117 pacientes com DM2. Novamente a tirzepatida levou vantagem, com redução nos níveis de glicose em jejum e naa excursões glicêmicas pós-prandiais durante o teste de refeição mista. Além disso, houve melhora na sensibilidade a insulina e consequente redução na taxa de secreção de insulina.

Os dados apresentados trazem possíveis explicações para o melhor controle glicêmico da tirzepatida em relação à semaglutida em pacientes com diabetes. Entretanto, algumas observações são pertinentes. Os estudos compararam a tirzepatida titulada até a dose de 15mg,sua dose máxima tanto no DM2 quanto na obesidade, contra 1mg de semaglutida. Sabemos que na dose de 2,4 mg a semaglutida alcança maiores reduções no peso corporal, o que levaria a melhora da resistência insulínica. Cabe lembrar ainda os resultados recentes dos estudos SELECT e FLOW, que reforçaram os benefícios cardiovasculares e renais com o uso da semaglutida, desfechos ainda não comprovados com a tirzepatida.

Enfim, aguardamos a publicação dos estudos SURMOUNT CVOT, que avaliará a tirzepatida na redução de desfechos cardiovasculares em pacientes de alto risco e do aguardado SURPASS 5, onde teremos o embate entre Tirzepatida e Semaglutida em suas doses máximas no tratamento de pacientes com obesidade.