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Tirzepatida: o agente mais potente no tratamento da obesidade?
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
7/6/2022
Obesidade é uma condição crônica, com elevada prevalência e alta morbimortalidade. Dados recentes apontam que 1 em cada 5 brasileiros tem IMC ≥ 30kg/m2. O desenvolvimento de condições associadas como diabetes e hipertensão aumenta a incidência de doenças renais e cardiovasculares, com redução significativa na expectativa de vida. Diante de falha na abordagem com modificação de estilo de vida, ainda temos poucas opções de tratamento farmacológico, parte delas com eficácia limitada. Nesse contexto, tivemos a publicação dos resultados do SURMOUNT-1, simultaneamente a apresentação no congresso da American Diabetes Association – ADA. O estudo avaliou o uso da Tirzepatida, um co-agonista GLP1 e GIP na redução de peso em não diabéticos. Trata-se do melhor resultado de um agente farmacológico até o momento. A perda média de peso foi de 20%, com 26% de redução no percentual de gordura corporal. Na dose mais elevada (15mg), 1 em cada 3 pacientes alcançaram perda acima de 25%. Mesmo nas doses mais baixas (5mg), a perda média foi de 15%, superior a todas as opções disponíveis no Brasil atualmente.
Além do peso, o tratamento com Tirzepatida também reduziu a circunferência da cintura, pressão arterial sistólica e diastólica, insulina em jejum, hemoglobina glicada, triglicerídeos e LDLc, com aumento do HDLc. Os eventos adversos graves e não graves foram limitados a sintomas gastrointestinais, como náusea, diarreia e constipação, semelhantes aos associados com as outras terapias baseadas em incretinas para perda de peso. Curiosamente, não se observa diferença na incidência desses eventos nas doses mais elevadas, com piora nos momentos de escalonamento da dose. A taxa de descontinuação foi de 4 a 7%.
A Tirzepatida já havia demonstrado resultados promissores nos estudos em pacientes com diabetes tipo 2. No SURPASS-2, coincidentemente apresentado no congresso da ADA em 2021, foi superior à semaglutida em relação à redução da hemoglobina glicada (-0,45%) com mais de 80% dos pacientes alcançando as metas glicêmicas, além de ter reduzido o peso corporal em 11,2 kg, quase o dobro da perda alcançada com a semaglutida. Ainda são aguardados os resultados do SURPASS-CVOT, que vai avaliar proteção cardiovascular. No estudo SURPASS-4, foi observada redução de eventos (RR 0,74), porém sem significância estatística.
Além da proteção cardiovascular, outras dúvidas ainda permanecem. Existe realmente um mecanismo de ação distinto para perda de peso além dos efeitos do GIP? O tratamento vai poder ser interrompido sem reganho de peso? Os estudos ainda são bastante recentes, surgirão outros eventos adversos ainda não previstos? A tirzepatida já foi aprovada pelo FDA para tratamento do diabetes e já está em processo de aprovação para obesidade. A perspectiva é de submissão à ANVISA ainda este ano, com chegada ao mercado brasileiro em meados de 2023. A experiência clínica esclarecerá essas e outras dúvidas, entretanto estamos testemunhando o surgimento de agentes realmente efetivos para combater os malefícios associados à obesidade e ao diabetes.
Texto retirado do site Endocrinopapers.