Tirzepatida versus semaglutida: qual a melhor para o tratamento da obesidade?

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Desde a publicação dos resultados dos ensaios clínicos que avaliaram a eficácia da tirzepatida, um co-agonista GLP-1 e GIP, na perda de peso de indivíduos com obesidade, mas sem diabetes tipo 2 (DM2), que aguardamos com ansiedade a sua chegada para uso na prática clínica. Por enquanto, no Brasil, temos a semaglutida, embora sua apresentação destinada ao tratamento da obesidade também ainda não esteja disponível comercialmente. Mas é impossível não se perguntar: e quando ambas estiverem disponíveis, qual será a melhor para o tratamento da obesidade?

Embora tenhamos os dados do SURPASS-2 que comparou a tirzepatida com a semaglutida em indivíduos com DM2 (mostrando maior perda de peso com o co-agonista GLP1 e GIP), não temos ainda ensaios clínicos randomizados head-to-head comparando a tirzepatida e a semaglutida no tratamento do sobrepeso e da obesidade.

Além disso, ainda não sabemos se os excelentes resultados demonstrados nos ensaios clínicos com estas medicações são reproduzidos no mundo real. Há de se considerar, por exemplo, o alto custo da medicação, dificultando o acesso e a adesão na prática clínica.

Neste contexto, foi publicado recentemente um estudo de vida real que objetivou comparar a tirzepatida e a semaglutida (injetável) no tratamento de indivíduos com sobrepeso e obesidade.

Foi um estudo de coorte que incluiu mais de 40 mil indivíduos, para os quais foi dispensado tirzepatida ou semaglutida pelo sistema de saúde estadunidense. A idade média foi de 52 anos e a maioria (70,5%) eram mulheres.

O grupo que usou tirzepatida teve maior redução percentual do peso com 3 meses (-5,9% versus -3,6%), com 6 meses (-10,1% versus -5,9%) e com 12 meses (-15,2% versus -7,9%). A diferença absoluta de perda de peso entre as duas medicações foi de -7,2% com 12 meses.

No grupo em uso de tirzepatida, 81,9% perderam 5% ou mais do peso versus 66,8% no grupo da semaglutida. A vantagem continuou sendo da tirzepatida quando se avaliou a proporção de indivíduos que perderam 10% ou mais (62,1% versus 38%) e 15% ou mais do peso (42,3% versus 19,3%). A mediana do tempo para se atingir uma perda de 5% ou mais do peso foi de 134 dias para tirzepatida e de 215 dias para semaglutida.

Vale ressaltar que 51,7% dos participantes tinham DM2. Mas as análises de subgrupo mostraram que a vantagem continuava sendo da tirzepatida tanto no grupo com quanto no sem DM2; sendo que a perda era maior naqueles sem DM2 para as duas medicações.

Em relação aos eventos adversos, os efeitos gastrointestinais foram o mais comuns, conforme esperado, não havendo diferença significativa de sua ocorrência entre as duas medicações.

Este estudo de vida real, portanto, concluiu que a tirzepatida foi mais eficaz do que a semaglutida em promover redução de peso em indivíduos com sobrepeso ou obesidade. Não se pode, no entanto, deduzir que esta maior perda poderia ter efeito positivo sobre desfechos, como eventos cardiovasculares.

Importante também lembrar que há um ensaio clínico randomizado em andamento comparando estas duas medicações para tratamento da obesidade em indivíduos sem DM2 (o SURMOUNT-5). Enquanto os resultados deste último não saem, já temos os dados deste estudo de vida real apontando uma vantagem maior da tirzepatida.