Tirzepatida: a maior redução de desfechos cardiovasculares e renais?

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Doenças cardiovasculares e renais têm elevada prevalência em pacientes com diabetes tipo 2, causando morbidade e mortalidade substanciais. De fato, as diversas diretrizes recomendam a avaliaçao do risco cardiovascular e renal na escolha do agente farmacológico a ser indicado. Muitos agentes hipoglicemiantes foram avaliados quanto à proteção cardiovascular e renal, além de seus efeitos no controle glicêmico. Neste cenário, os agonistas do GLP1 (aGLP1) além de efetivos na redução de peso corporal e dos níveis glicêmicos, demonstraram benefícios  cardiovasculares e renais.

A tirzepatida, um agonista duplo GLP-1/GIP, foi desenvolvida tendo em vista o efeito sinérgico das duas incretinas em alcançar um balanço energético negativo, além de facilitar a secreção de insulina dependente de glicose. Estudos demonstraram a superioridade da tirzepatida sobre a semaglutida. na redução da hemoglobina glicada (HbA1c) e do peso (reduções adicionais de 0,15-0,45 pontos percentuais na HbA1c e 1,9-5,5 kg no peso corporal) em pacientes com diabetes tipo 2.

Em um novo estudo de coorte retrospectivo, publicado na revista JAMA, os investigadores utilizaram bases de dados administrativas para comparar os efeitos relativos da Tirzepatida e dos aGLP1s nos desfechos cardiovasculares e renais. Foram avaliados cerca de 140 mil pacientes com diabetes tipo 2 que iniciaram recentemente um dos medicamentos. Foram excluídos pacientes com doença renal crônica grave ou eventos cardiovasculares recentes.

Os resultados mostraram que durante um acompanhamento médio de 1 ano, a tirzepatida foi associada a um risco significativamente menor de mortalidade por todas as causas (taxa de risco, 0,58), eventos cardiovasculares adversos maiores (HR, 0,80), lesão renal aguda (HR, 0,78) e eventos renais adversos maiores (HR, 0,54) do que os aGLP-1s. Pacientes em uso de tirzepatida ainda apresentaram maior perda de peso e níveis mais baixos de hemoglobina glicosilada.

Estes resultados são interessantes, mas extremamente controversos. Estudos retrospectivos apoiados em banco de dados cadastrais são sujeitos a diversas falhas metodológicas. Cabe reforçar que não temos ainda dados de um ensaio clinico verdadeiramente planejado para demonstrar benefícios cardiovasculares da tirzepatida, mesmo comparada ao placebo. Os desejáveis ensaios  prospectivos e de longa duração para examinar tais benefícios estão em andamento. Aguardamos as publicações!