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Testosterona aumenta o risco de fibrilação atrial?
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
6/5/2024
O estudo TRAVERSE, publicado recentemente, demonstrou que a terapia de reposição de testosterona, em homens com hipogonadismo e alto risco cardiovascular, seria segura. Entretanto, entre os eventos adversos, foi verificado um maior risco de fibrilação atrial. Apesar dos estudos observacionais anteriores tiveram resultados divergentes, foi criada uma dúvida sobre uma possível associação entre a reposição de testosterona e o risco de fibrilação atrial.
Outro estudo recentemente publicado na The Lancet, trouxe mais dados sobre o tema. Os autores apresentam resultados derivados do estudo ASPREE, que avaliou o uso da aspirina na redução do risco cardiovascular em idosos. Os dados derivam de uma população de 4570 idosos saudáveis que tiveram seus níveis de testosterona avaliados durante o estudo. Os autores encontraram uma relação entre os níveis de testosterona e a incidência de fibrilação atrial. A associação foi não linear, com maior risco de eventos nos indivíduos com os maiores valores de testosterona sérica, mesmo dentro da faixa normal.
Em comparação com os homens no quintil médio das concentrações de testosterona, aqueles nas faixas mais elevadas tinham um risco duas vezes maior de desenvolver fibrilação atrial, independentemente da idade, tabagismo, IMC, hipertensão, consumo de álcool, diabetes, dislipidemia, concentrações de TSH ou uso de aspirina. Depois de excluir os homens que tiveram evento cardiovascular ou insuficiência cardíaca durante o período de acompanhamento, a associação com um risco aumentado de fibrilação atrial permaneceu inalterada.
Os mecanismos envolvidos nessa associação não foram estabelecidos. Maior concentração de estradiol por conta da conversão da testosterona pela aromatase epicárdica poderia predispor a maior risco de arritmia. Em outro estudo in vitro, o tratamento com testosterona aumentou a expressão do receptor β1-adrenérgico e de canais iônicos no miocárdio, podendo predispor à fibrilação atrial. A fibrilação atrial tem elevada incidência entre homens idosos e forte associação com acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, incapacidade e mortalidade. Diante dos dados apresentados, os autores concluem que o risco de fibrilação atrial deve ser considerado quando da indicação de terapia de reposição de testosterona em homens idosos.