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Terapia de reposição hormonal na menopausa após os 65 anos: há benefícios?
Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
24/4/2024
Até recentemente, pensava-se muitas vezes que as mulheres não persistiam com sintomas graves da menopausa, após os 65 anos, gerando uma falsa ideia de que a não seria necessário realizar a terapia hormonal (TH) nessa faixa etária. No entanto, estudos relataram que os sintomas vasomotores da menopausa persistiram por 7 a 12 anos em muitas mulheres, e alguns sintomas vasomotores persistiram em 42,1% das mulheres com idade entre 60 e 65 anos, o que sugere que não são poucas as mulheres que continuam a ter sintomas vasomotores mesmo após os 65 anos.
De acordo com a da Sociedade Norte-Americana de Menopausa (2022), não existe uma regra geral para interromper a TH em uma mulher com idade igual ou maior que 65 anos. Para mulheres saudáveis com sintomas vasomotores persistentes, a continuação da TH após os 65 anos de idade é uma opção razoável com aconselhamento apropriado e avaliação regular dos riscos e benefícios. Além disso, a mitigação dos riscos através da escolha de doses baixas, não orais e diferentes estrogênios e progestagênios torna-se cada vez mais importante à medida que as mulheres envelhecem. No entanto, faltam informações sobre os efeitos das diferentes formulações, dosagens e vias de administração da TH nessa faixa etária.
Estudo recente, publicado no periódico Menopause buscou avaliar o uso da terapia hormonal na menopausa além dos 65 anos de idade e suas implicações para a saúde de acordo com tipos de estrogênio/progestagênio, vias de administração e dosagens. Para isso foram analisados registros de medicamentos prescritos e atendimentos de 10 milhões de mulheres idosas de 2007 a 2020 e análises de regressão de Cox ajustadas para características variáveis no tempo das mulheres, examinando os efeitos de diferentes preparações de terapia hormonal da menopausa na mortalidade por todas as causas, cinco tipos de câncer, seis doenças cardiovasculares e demência.
Comparado com nunca usar ou interromper a terapia hormonal na menopausa após os 65 anos de idade, o uso de monoterapia com estrogênio além dos 65 anos de idade foi associado a reduções significativas de risco na mortalidade (19%) câncer de mama (16%), câncer de pulmão (13%), câncer colorretal (12%), insuficiência cardíaca congestiva (5%), tromboembolismo venoso (3%), fibrilação atrial (4%), infarto agudo do miocárdio (11%) e demência (2%). Em contraste, a combinação de estrogênio com progesterona aumentou o risco de câncer de mama (10% a 19%), embora o risco possa ser mitigado usando doses baixas e vias não orais (vaginal ou transdérmica). A associação com progesterona foi associada a reduções de risco significativas no câncer endometrial (45%) e câncer de ovário (21%).
Em geral, as reduções de risco parecem ser maiores com doses baixas em vez de médias ou altas e preparações vaginais ou transdérmicas em vez de orais. Esses achados reforçam a necessidade de personalização do tratamento hormonal na menopausa para mulheres idosas, considerando os tipos específicos de hormônios, as vias de administração e as dosagens. Além disso, o estudo sugere que a decisão de continuar ou iniciar a terapia hormonal após os 65 anos deve ser tomada com uma avaliação criteriosa dos riscos e benefícios, adaptando-se às necessidades e condições de saúde específicas de cada mulher.