A obesidade parece atenuar a resposta à suplementação de vitamina D

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O aumento do peso corporal tem sido associado de forma negativa aos níveis séricos de vitamina D, de acordo com estudos observacionais. Embora seja difícil determinar uma relação de causa-efeito, a obesidade parede anteceder a hipovitaminose D. No estudo VITAL, por exemplo, a suplementação de vitamina D não modificou o peso ou a composição corporal, sugerindo que a alteração do metabolismo da vitamina D é consequência e não causa do ganho de peso.

Como possíveis explicações para a queda dos níveis de vitamina D na obesidade, temos:

  • O sequestro do hormônio pelo tecido adiposo, considerando a lipossolubidade da vitamina D;
  • A alteração do metabolismo hepático causada pela obesidade, levando à redução da 25-hidroxilação da vitamina D.

Este efeito negativo da obesidade sobre a vitamina D tem sido implicado como um dos motivos para a falta de eficácia da sua suplementação sobre desfechos clínicos, como doença cardiovascular e câncer. Uma subanálise do estudo VITAL, por exemplo, mostrou que, quando os participantes foram separados pelo peso, aqueles com IMC < 25 tiveram redução da incidência e da mortalidade de câncer e redução da incidência de doença auto-imune com a suplementação de vitamina D. Já aqueles com sobrepeso ou obesidade continuaram sem demonstrar nenhum benefício.

Será, então, que a obesidade interfere de forma negativa também na suplementação de vitamina D? Recente estudo publicado no JAMA sugere que sim.

Este estudo, conduzido por Tobias DK e colaboradores, foi uma análise post-hoc do VITAL, que comparou a suplementação de 2000UI ao dia de vitamina D versus placebo. Foram selecionados 16515 participantes do trial original com o objetivo de determinar se o IMC basal modifica a resposta à suplementação de vitamina D.

Em um período de seguimento de 2 anos foram analisados os níveis séricos basais e após a intervenção não apenas da 25-hidroxivitamina D (25OHD), mas também de outros biomarcadores da vitamina D:

  • Vitamina D biodisponível: corresponde à 25-OHD ligada à albumina e representa 10 a 15% da vitamina D circulante;
  • Vitamina D livre: representa menos de 1% da vitamina D circulante.

A hipótese foi de que, talvez, a obesidade altere a bioatividade da vitamina D, o que poderia justificar a falta de benefício da sua suplementação.

Os níveis médios basais de 25OHD, como era de se esperar, foram menores nas categorias mais altas do IMC: 29 ng/mL na obesidade grau II; 28 ng/mL na obesidade grau I; 30,5 ng/mL no sobrepeso; e 32,3 ng/mL no peso normal. Esta diferença foi estatisticamente significativa. O mesmo aconteceu com os níveis basais de vitamina D livre e biodisponível.

Mas o que mais chamou a atenção nos resultados do estudo foi a constatação de que, embora os níveis de 25OHD tenham aumentado no grupo de suplementação independente do IMC, a magnitude do aumento foi menor naqueles indivíduos com IMC maior: a média de aumento em 2 anos foi de 13,5 ng/mL naqueles com IMC < 25 e de apenas 10 ng/mL naqueles com IMC 35. Também foi visto diferença significativa do incremento de vitamina D livre e biodisponível de acordo com o IMC.

O estudo, portanto, concluiu que a reposição de vitamina D elevou os níveis séricos dos biomarcadores da vitamina D, mas este efeito foi atenuado pelo sobrepeso e pela obesidade. Parece, assim, que o excesso de gordura corporal modifica a resposta à suplementação de vitamina D.