Como realizar o diagnóstico de SOP na adolescência?

Compartilhe

A adolescência é um período da vida da mulher em que pode ocorrer, pela imaturidade do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, ciclos anovulatórios e, portanto, irregularidade menstrual. Além disso, não é raro o surgimento de acne e, até mesmo, hirsutismo nesta faixa etária, o que pode atrapalhar a caracterização dos clássicos critérios utilizados para o diagnóstico de síndrome dos ovários policísticos. Mas, então, como realizar o diagnóstico de SOP na adolescência?

A primeira particularidade, diz respeito ao uso de ultrassonografia (USG) pélvica nesta faixa etária. Segundo o consenso internacional de SOP, publicado em 2018 na Fertility and Sterility, não se deve mais utilizar USG para o diagnóstico de SOP em adolescentes. Isso porque a morfologia ovariana policística já é muito comum durante a puberdade mesmo em meninas sem SOP.

Como regra prática, o consenso determina que o USG só deve começar a ser utilizado com a finalidade de determinar a morfologia ovariana policística como critério para SOP a partir de 8 anos após a idade da menarca.

Desta forma, com a exclusão de um dos três dos famosos critérios de Rotterdam, torna-se obrigatório a presença dos dois outros critérios: ciclos menstruais anovulatórios e hiperandrogenismo e/ou hiperandrogenemia. Persiste a necessidade de excluir outras causas que possam justificar o quadro, assim como na mulher em idade adulta.

No entanto, é preciso ter cuidado também na caracterização dos ciclos anovulatórios para poder defini-los como critério de SOP. Afinal, a presença de ciclos irregulares é comum após a menarca, diminuindo de intensidade à medida que a idade da menina se afasta da idade da primeira menstruação. Desta forma, a definição de ciclos irregulares deve seguir os seguintes critérios:

  • Primeiro ano após a menarca: ciclos com duração > 90 dias
  • De 1 a <3 anos pós-menarca: ciclos com duração < 21 dias ou > 45 dias
  • A partir de 3 anos pós-menarca: ciclos com duração < 21 dias ou > 35 dias
  • Amenorreia primária: aos 15 anos ou > 3 anos após telarca

Deve-se também ter cuidado em relação aos sinais cutâneos de hiperandrogenismo. O ideal é que não se considere, a princípio, hirsutimo ou acne leves. Apenas casos mais graves devem ser considerados na avaliação diagnóstica da SOP.

E, mesmo que ao final, a paciente preencha os dois critérios obrigatórios e tenha excluído outras causas, ela deve ser reavaliada para este diagnóstico no futuro, já na idade adulta. Portanto, este é um diagnóstico prospectivo que requer o seguimento para comprovar a persistência dos critérios futuramente.

É importante, assim, que a adolescente não seja estigmatizada com um diagnóstico, especialmente quando as alterações clínicas não forem tão exuberantes. Muitas podem ser classificadas como “risco aumentado de SOP”, sendo orientadas sobre a necessidade de acompanhamento regular.