Síndrome de Lynch

Compartilhe

A síndrome de Lynch, também conhecida como câncer colorretal hereditário sem polipose (HNPCC) é uma herança autossômica dominante no gene de reparo de DNA (MLH1, MSH2, MSH6, PMS2). Nessas famílias, há um aumento da probabilidade de neoplasia como câncer colorretal, endometrial ou ovariano.

Segundo os critérios de Amsterdã, há suspeita dessa síndrome quando há 3 parentes com neoplasia associada à síndrome de Lynch (colorretal, endométrio, câncer de delgado, ureter ou pelve renal), sendo pelo menos um parente de primeiro grau. Essas neoplasias são suspeitas quando ocorrem antes dos 50 anos.

Nos pacientes com essa síndrome, há risco de câncer endometrial que varia de 17 a 71%, e essa ampla variação ocorre devido ao risco relacionado ao genótipo. Geralmente, o diagnóstico é feito na quarta década de vida, em contraposição à epidemiologia dos não portadores da síndrome, em que esse diagnóstico costuma ser feito ao redor dos 60 anos.

O quadro clínico é semelhante, se apresentando, na maioria das vezes, com sangramento uterino anormal, mas, diferentemente da população geral, em que a neoplasia é encontrada no corpo do útero, nessa síndrome, a localização é geralmente no terço inferior. Nessa localização, pode ser confundida com adenocarcinoma cervical.

O tipo histológico nessa síndrome é semelhante à população geral e corresponde ao subtipo endometrioide, mas os tipos não endometrioides, como o carcinoma seroso, células claras, indiferenciado e tumores müllerianos mistos maligno foram também encontrados em portadores da síndrome de Lynch.

Nessas pacientes, a informação do risco aumentado de câncer é fundamental e, na vigência de qualquer sangramento uterino anormal, biópsia endometrial deve ser preconizada. Em pacientes assintomáticas, é importante a amostra endometrial anual ou bianualmente entre os 30 e 35 anos, ou de 5 a 10 anos antes da idade do familiar diagnosticado com neoplasia associada à síndrome de Lynch. A amostragem deve ser realizada até a prole ser estabelecida e, após, há a indicação de histerectomia redutora de risco.

Já em relação ao câncer de ovário, portadores da síndrome de Lynch possuem um risco que pode variar de 8 a 38%, dependendo do tipo de mutação. Semelhante à neoplasia endometrial, as pacientes com câncer de ovário também são mais jovens, na faixa etária dos 40 anos.

A manifestação clínica do câncer de ovário é comum para ambas as populações e tem início com sintomas inespecíficos como dor pélvica, distensão abdominal, saciedade precoce, constipação e alteração de hábito urinário. Nas portadoras da síndrome de Lynch o diagnóstico em fases mais precoces da doença é mais provável e, ao descobri-lo, pode ser bastante ou moderadamente diferenciado.

O epitelial é a histologia mais comum com os não portadores da doença. Nos portadores da síndrome de Lynch, no entanto, é mais frequente, que na população geral, o subtipo endometroide, e raramente a histologia não epitelial é encontrada.

O rastreio para câncer de ovário não é bem estabelecido, podendo ser realizado ou não, a depender da escolha entre o médico e paciente. Nos que optarem por realizar o rastreio, esse é indicado a partir de 30 a 35 anos ou 10 anos antes do primeiro caso índice da família. É realizado com ecografia pélvica transvaginal e pode associar ou não o CA-125.

A salpingo-ooforectomia e histerectomia são eficazes na prevenção de câncer nesses órgãos. Essa decisão, entretanto, deve ser realizada em conjunto com a paciente, visto que geralmente são pacientes jovens e entrarão precocemente na menopausa. Indicada a cirurgia após a constituição da prole.

Caso a paciente ainda não tenha constituído a prole, uma opção é o uso de contraceptivo hormonal associado à vigilância. Os contraceptivos combinados podem reduzir a chance de câncer de ovário devido à anovulação e de endométrio nessa população, enquanto os de progestágeno podem diminuir o risco de endométrio, mas não o de ovário.

Após a cirurgia redutora de risco, há a necessidade de rastreio de neoplasia peritoneal ao realizar exame pélvico anual e CA-125.

REFERÊNCIAS:

BOKS, Dominique et al. Survival analysis of endometrial carcinoma associated with hereditary nonpolyposis colorectal cancer. International Journal of Cancer, v. 102, n. 2, 2002, p. 198-200. Disponível em: https://doi.org/10.1002/ijc.10667. Acesso em: 28 ago. 2023.

BROADDUS, Russell et al. Pathologic features of endometrial carcinoma associated with HNPCC: a comparison with sporadic endometrial carcinoma. Cancer, v. 106, n. 1, 2006, p. 87-94. Disponível em: https://doi.org/10.1002/cncr.21560. Acesso em: 28 ago. 2023.

CARCANGIU, Maria Luisa et al. Lynch syndrome--related endometrial carcinomas show a high frequency of nonendometrioid types and of high FIGO grade endometrioid types. International Journal of Surgical Pathology, v. 18, n. 1, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1066896909332117. Acesso em: 28 ago. 2023.

GARG, Karuna et al. Selection of endometrial carcinomas for DNA mismatch repair protein immunohistochemistry using patient age and tumor morphology enhances detection of mismatch repair abnormalities. The American Journal of Surgical Pathology, v. 33, n. 6, 2009, p. 925-933. Disponível em: https://journals.lww.com/ajsp/abstract/2009/06000/selection_of_endometrial_carcinomas_for_dna.13.aspx. Acesso em: 28 ago. 2023.

HAVRILESKY, Laura et al. Oral contraceptive pills as primary prevention for ovarian cancer: a systematic review and meta-analysis. Obstetrics and Gynecology, v. 122, n. 1, 2013, p. 139-147. Disponível em: https://journals.lww.com/greenjournal/abstract/2013/07000/oral_contraceptive_pills_as_primary_prevention_for.21.aspx. Acesso em: 28 ago. 2023.

LU, Karen et al. Gynecologic cancer as a "sentinel cancer" for women with hereditary nonpolyposis colorectal cancer syndrome. Obstetrics and Gynecology, v. 105, n. 3, 2005, p. 569-574. Disponível em: https://journals.lww.com/greenjournal/abstract/2005/03000/gynecologic_cancer_as_a__sentinel_cancer__for.21.aspx. Acesso em: 28 ago. 2023.

NATIONAL COMPREHENSIVE CANCER NETWORK (NCCN). Cancer risks in Lynch syndrome by gene. Disponível em: https://www.nccn.org/professionals/physician_gls/pdf/genetics_colon.pdf. Acesso em: 27 dez. 2019.

SCHMELER, Kathleen et al. Prophylactic surgery to reduce the risk of gynecologic cancers in the Lynch syndrome. The New England Journal of Medicine, v. 354, n. 3, 2006, p. 261-269. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa052627. Acesso em: 28 ago. 2023.