Semaglutida versus Testosterona no tratamento do Hipogonadismo Funcional

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Homens com obesidade, com ou sem diabetes mellitus tipo 2, frequentemente apresentam hipogonadismo funcional (HF), caracterizado por baixos níveis de testosterona associados à disfunção do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal. Este distúrbio não apenas afeta negativamente a saúde metabólica e a função sexual, mas também compromete a qualidade espermática, prejudicando a fertilidade masculina.

Um recente estudo randomizado e aberto comparou os efeitos do semaglutida (SEMA), um agonista do receptor GLP-1, e da terapia de reposição de testosterona (TRT) em 25 homens obesos com diabetes tipo 2 e HF. Durante 24 semanas, os participantes foram distribuídos em dois grupos: um tratado com semaglutida (1 mg/semana) e outro com testosterona undecanoato (1000 mg a cada 10–12 semanas). Os parâmetros analisados incluíram qualidade do sêmen, testosterona, função sexual e sintomas gerais de hipogonadismo.

No grupo SEMA, observou-se um aumento significativo na proporção de espermatozoides morfologicamente normais (de 2% para 4%; p=0,012). Em contraste, o grupo TRT apresentou reduções significativas na concentração espermática e no número total de espermatozoides. Esses achados destacam o impacto adverso do TRT na espermatogénese, frequentemente associado à supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário.

Em relação aos sintomas de HF, ambos os grupos tiveram aumento dos níveis de testosterona total e melhorias nas avaliações da escala AMS (Aging Male Symptoms). Contudo, apenas o grupo TRT demonstrou melhorias significativas na função sexual, avaliada pelo índice IIEF-15. O grupo SEMA destacou-se pela capacidade de reduzir o peso corporal em média 6 kg (p=0,007), diminuir o índice de massa corporal (IMC) e melhorar os níveis de HbA1c (p=0,019). Além disso, houve reduções significativas no percentual de gordura corporal e na gordura visceral.

Os efeitos positivos do semaglutida na qualidade espermática vão além da perda de peso. Estudos sugerem que o GLP-1 e seus agonistas podem modular diretamente a biologia espermática através de receptores localizados nas células de Sertoli, Leydig e nos espermatozoides. Esses mecanismos incluem a melhoria do metabolismo espermático e a proteção contra processos inflamatórios e oxidativos, favorecendo a capacitação e a sobrevivência em ambientes desafiadores, como o trato genital feminino.

Por outro lado, o TRT, embora eficaz em aumentar os níveis de testosterona e melhorar a função sexual, apresentou impacto negativo na espermatogénese devido à supressão do LH e do FSH, hormônios essenciais para a produção espermática. Isso limita sua aplicação em pacientes com desejo reprodutivo.


O semaglutida demonstrou benefícios abrangentes em aspectos metabólicos, sintomas gerais de HF e na qualidade espermática, sendo uma opção terapêutica promissora para homens obesos com diabetes tipo 2 que buscam preservar ou melhorar a fertilidade. Em contrapartida, o TRT deve ser empregado com cautela em pacientes que desejam manter a função reprodutiva.