Retrospectiva 2024: o que tivemos de novidade na andrologia e na endocrinologia feminina?

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No mundo da andrologia, o ano de 2024 começou com a publicação dos resultados de alguns dos braços do estudo TRAVERSE, que já tinha dado o que falar em 2023. O estudo que demonstrou segurança cardiovascular da testosterona em gel em homens com hipogonadismo e alto risco cardiovascular, avaliou também os seguintes parâmetros:

 

1.       Risco de fraturas: surpreendentemente, o grupo de homens que fez uso da testosterona em gel teve mais fraturas do que o grupo placebo. Os autores não conseguiram fornecer uma explicação conclusiva para isso, até porque a hipótese inicial era de que a testosterona reduziria este risco. Uma suposição é de que estes homens se tornaram mais ativos com a reposição e, consequentemente, se colocaram em mais situações de risco de queda. A comunidade científica aguarda agora novos estudos para entender melhor o efeito da terapia de reposição de testosterona (TRT) sobre a saúde óssea.

 

2.       Risco de diabetes: também foram publicados os dados referentes ao risco de progressão para diabetes entre aqueles que tinham pré-diabetes no início da testosterona, mas o resultado foi nulo. Da mesma forma, a TRT não foi eficaz em levar à remissão do diabetes.

 

3.       Função sexual: conforme esperado, a TRT se mostrou benéfica em melhorar a libido e aumentar a atividade sexual entre os homens avaliados. Porém, não foi capaz de melhorar a disfunção erétil.

 

 

Já no mundo da endocrinologia feminina, as principais novidades vieram dos novos guidelines publicados:

 

1.       Consenso brasileiro sobre terapia hormonal do climatério: em maio de 2024, a SOBRAC publicou seu novo consenso sobre este tema. Como destaques, podemos citar: a possibilidade de se fazer estrogênio por via vaginal em mulheres com câncer de mama e sintomas genitourinários que comprometam sua qualidade de vida (desde que em comum acordo com o oncologistaa e a paciente); o posicionamento contra o uso de progesterona em gel por via transdérmica e de implantes subcutâneos para terapia hormonal da menopausa(THM); a não possibilidade de se definir ainda um tempo máximo de uso para aTHM; e a possibilidade de se considerar a THM para prevenção e tratamento da osteoporose mesmo em mulheres sem sintomas vasomotores.

 

2.       Diretriz brasileira sobre a saúde cardiovascular no climatério: em agosto de 2024, a sociedade brasileira de cardiologia lançou um longo documento que aborda o risco cardiovascular de mulheres na menopausa. Em relação a THM, destacam-se os seguintes pontos: os autores consideraram que mulheres com hipertensão arterial bem controlada e baixo risco cardiovascular podem fazer a THM por via oral; destacam que, na presença de obesidade, diabetes e/ou síndrome metabólica, a via transdérmica deve ser preferida; er essaltam a progesterona micronizada como o progestagênio mais seguro nas mulheres com útero.

 

3.       Guideline europeu de insuficiência ovarina prematura (IOP): uma das maiores novidades desse novo guideline foi em relação ao diagnóstico de IOP: os autores consideraram que não há mais a necessidade de se repetir a dosagem de FSH para confirmação diagnóstica quando, na primeira dosagem, seus níveis já estiverem acima de 25. Também passaram a considerar a dosagem de AMH, mas apenas naqueles casos em que a dosagem do FSH foi inconclusiva. Em relação à investigação da etiologia, os autores passaram a recomendar que, após a exclusão de síndrome de Turner e de pré-mutação do X frágil, todas as mulheres com IOP devem realizar sequenciamento genético de nova geração, desde que disponível. Para avaliação de ooforite auto-imune, os autores não recomendam mais a dosagem de anti-TPO.