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Retrospectiva 2022: 5 artigos de destaque na endocrinologia
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
29/12/2022
O ano está terminando, é hora de avaliar os resultados e programar novas metas. Fizemos nosso balanço e trouxemos os artigos de maior destaque ao longo de 2022. Confira nossa lista: 5- GEMS – Novas metas no DMG?Estudo comparou critérios mais baixos (≥ 92, ≥ 180 e ≥ 153 mg/dL para glicemias em jejum, 1 e 2 horas) com critérios mais altos (≥ 99 mg/dL e ≥ 162 mg/dL para jejum e 2h, respectivamente). O diagnóstico de DMG foi mais frequente no grupo dos critérios mais baixos (15,3% vs 6,1%). A frequência de bebês GIG foi semelhante entre os grupos (178 (8,8%) vs 181 (8,9%), RR, 0,98; CI 95%, 0,80 a 1,19; P=0,82). Indução do trabalho de parto, uso de serviços de saúde, uso de agentes farmacológicos e hipoglicemia neonatal foram mais comuns no grupo de critérios glicêmicos mais baixos.Foi realizada uma análise de subgrupo pré-especificada, incluindo mulheres cujo resultado do TOTG caiu entre os critérios glicêmicos mais baixos e mais altos (GJ 92 – 99 mg/dl, 1h >180mg/dl e 2h 153 – 192 mg/dl), ou seja, onde a mudança de critérios faria verdadeira diferença. No grupo de critérios glicêmicos mais baixos houve menor incidência de bebês GIG (12 de 195 [6,2%] vs. 32 de 178 [18,0%]; RR, 0,33; IC 95%, 0,18 a 0,62). O número ajustado de mulheres necessárias para diagnosticar e tratar diabetes gestacional para prevenir um bebê GIG neste subgrupo foi de 4 (IC 95%, 2 a 17).Assim, no intervalo onde realmente haveria mudança de critérios, os níveis mais baixos foram mais seguros.4 – ESTIMABL2 – Radioiodo no CDT de baixo risco.Participaram 730 pacientes com carcinoma de tireoide de baixo risco (todos <2cm e sem metástases linfonodais) randomizados para uso de radioiodo em baixa dose (30mCi) ou não. Após seguimento de 3 anos não houve diferença entre os grupos, com cerca de 4% dos pacientes apresentando sinais de recorrência em ambos. Esse risco foi maior em pacientes com Tg > 1ng/ml no pós-operatório. A presença da mutação BRAF V600E não esteve associada a maior risco de recidiva nesse subgrupo.O estudo reforça que nos pacientes de baixo risco, sem evidência de recidiva, o uso de radioiodo pode ser dispensado.3 – DELIVER – Dapagliflozina na ICFEP.Dapagliflozina foi comparada ao placebo em 6.263 pacientes com insuficiência cardíaca e FE > 40%. Após um seguimento de 2,3 anos, o desfecho primário foi reduzido no grupo em uso da medicação (16,4% vs 19,5%. RR 0,82; 95% CI, 0,73 a 0,92; P <0,001). A redução de 21% no agravamento da insuficiência cardíaca foi a principal responsável pelo benefício. Os resultados foram semelhantes em subgrupos pré-especificados, com benefício independente dos valores de FE e da presença ou não de diabetes. A incidência de eventos adversos foi semelhante nos dois grupos.O estudo reforça os achados do EMPEROR Preserved, firmando os iSGLT2 como terapia de escolha na insuficiência cardíaca, independentemente da fração de ejeção.2 – EMPA-Kidney – Empagliflozina na doença renal crônica.Um total de 6.609 pacientes foram acompanhados por cerca de 2 anos. O tratamento com empagliflozina reduziu em 28% o desfecho primário de progressão da doença renal ou morte por causas cardiovasculares (13,1% x 16,9%, razão de risco, 0,72; P <0,001). A proteção foi independente da presença ou não de diabetes e consistente entre os diferentes intervalos de TFG. Além disso a empagliflozina também reduziu a taxa de hospitalização por qualquer causa em 14%. As taxas de eventos adversos graves foram semelhantes nos dois grupos.O estudo EMPA-KIDNEY traz informações pela maior diversidade da população estudada: foram 3.569 pacientes (54,0%) sem diabetes, 2.282 pacientes (34,5%) com eGFR inferior a 30 ml/min/1,73 m2 e 3.192 pacientes (48,3%) com uma relação albumina/creatinina urinária inferior a 300. Os resultados reforçam os benefícios dos iSGLT2 em pacientes sob risco de progressão de perda de função renal.1 – SURMOUNT – Tirzepatida no tratamento da obesidade.O estudo avaliou o uso da Tirzepatida, um co-agonista GLP1 e GIP na redução de peso em não diabéticos. A perda média de peso foi de 20%, com 26% de redução no percentual de gordura corporal. Na dose mais elevada (15mg), 1 em cada 3 pacientes alcançaram perda acima de 25%. Mesmo nas doses mais baixas (5mg), a perda média foi de 15%, superior a todas as opções disponíveis no Brasil atualmente.Além do peso, o tratamento com Tirzepatida também reduziu a circunferência da cintura, pressão arterial sistólica e diastólica, insulina em jejum, hemoglobina glicada, triglicerídeos e LDLc, com aumento do HDLc. Os eventos adversos graves e não graves foram limitados a sintomas gastrointestinais, como náusea, diarreia e constipação, com baixa taxa de descontinuação (4 a 7%).Os resultados colocam a Tirzepatida como o agente farmacológico mais potente no tratamento da obesidade até o momento.