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Resumo do documento científico da SBP: Aleitamento materno e alergia alimentar

Escrito por
Lygia Lauand
Publicado em
12/2/2025
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Em relação aos benefícios do aleitamento materno na prevenção de alergias, alguns estudos têm demonstrado efeito protetor para eczemas, asma e rinite alérgica. As evidências mostram que quanto maior o tempo de amamentação, maior a proteção.
Apenas 0,5% a 1% dos bebês exclusivamente amamentados desenvolverão alergia às proteínas do leite de vaca mais tarde. Esses achados podem ser explicados pelo fato da amamentação proporcionar uma exposição contínua de antígenos ao sistema imunológico materno, durante os primeiros meses de vida, quando o sistema imunológico do bebê está em constante desenvolvimento.
O leite tem componentes bioativos que atuam na maturação do sistema imune da criança. Esses componentes são células imunes, citocinas, quimiocinas, fator de necrose tumoral – TNF, hormônios, fatores de crescimento, lisozima, lactoferrina, imunoglobulinas, CD14 solúvel, HMOs, antígenos alimentares derivados da dieta materna e células do microbioma materno.
Os bebês amamentados possuem um perfil microbiano com predomínio de Bifidobacterium e Lactobacillus spp, que têm papel importante no desenvolvimento da tolerância. O tipo de parto, se vaginal ou cirúrgico, estabelece inicialmente a colonização da microbiota do bebê. O modo de alimentação é o segundo determinante fundamental da microbiota da criança, com papel protetor do aleitamento materno.
A principal imunoglobulina no leite humano é a IgA secretora (sIgA), que tem função na homeostase intestinal e controle da microbiota intestinal. O colostro tem muita sIgA, o que reforça o seu papel como profilático para o desenvolvimento de alergias alimentares. A restrição de leite de vaca na dieta materna está associada a níveis menores de IgA específica ao leite de vaca no leite humano quando comparado a dietas maternas menos restritivas, sendo um fator de risco para APLV.
Não há nenhum benefício em orientar uma dieta materna de restrição durante o aleitamento materno ou gestação para prevenção de alergia alimentar. Uma dieta materna saudável e equilibrada pode proporcionar o aleitamento materno por mais tempo e melhor qualidade de vida para a mãe. A exposição a alérgenos
alimentares muda a especificidade do anticorpo no leite humano, e a combinação dos alérgenos alimentares com as imunoglobulinas podem aumentar a aquisição de tolerância. Dietas muito restritivas na gestação ou amamentação podem ocasionar danos maiores do que qualquer redução potencial de alergia alimentar.
Se o lactente apresentar sintomas de alergia alimentar, a dieta materna livre de antígenos deve ser orientada de modo individualizado e o aleitamento materno continuado. Nos casos em que o lactente em aleitamento natural não manifestar reações com alérgenos veiculados pelo leite materno, não há indicação de se restringir a dieta da nutriz, ainda que os sintomas possam ser observados após a ingestão do alimento diretamente pela criança.
Para as crianças de risco para o desenvolvimento de alergia alimentar, a introdução precoce de alimentos contendo alérgenos como ovo e amendoim, entre quatro e 12 meses de vida, pode reduzir o risco de alergia alimentar e dermatite atópica.