Remodelamento reverso do ventrículo esquerdo: o que você precisa saber?

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Remodelamento reverso do ventrículo esquerdo: o que você precisa saber?

Remodelamento cardíaco é o termo utilizado para descrever as alterações funcionais, estruturais, miocelulares e intersticiais que ocorrem em resposta à lesão miocárdica causada por ativação neuro-hormonal, aumento do estresse da parede e vias de sinalização inflamatória, levando à insuficiência Cardíaca (IC). Estas modificações estão associadas a um risco aumentado de morbidade e mortalidade. O remodelamento reverso do ventrículo esquerdo (VE) descreve o processo pelo qual um VE lesionado com um fenótipo esférico dilatado pode retornar para uma normalização da estrutura e da função ventricular, espontaneamente ou decorrente das intervenções terapêuticas (1).

A definição do remodelamento reverso pode variar entre as sociedades e diretrizes. A diretriz da American College of Cardiology/ American Heart Association define como IC fração de ejeção preservada “melhorada” aqueles pacientes com FEVE acima de 40%, porém com FEVE prévia menor (2). Já alguns investigadores definem como remodelamento reverso uma FEVE acima de 50% com uma documentação prévia de FEVE inferior a este valor (3, 4). O que se sabe é que remodelamento reverso compreende um conjunto de alterações positivas na função cardíaca, mas não necessariamente uma cura da condição de base. Os pacientes apresentam características clínicas, biomarcadores e funcionalidade melhores que os pacientes com FEVE reduzida, porém ainda são inferiores quando comparado com de pessoas saudáveis. Este fato reflete que não há necessariamente uma recuperação total da função ventricular e das alterações estruturais (5).

A prevalência do remodelamento reverso está ligada com a etiologia da cardiomiopatia. Causas como taquicardiomiopatia, Takotsubo e hipertireoidismo podem ter melhora da FEVE em até 60% a 100% dos casos (6). É importante saber que dependendo do estudo teremos uma variação da prevalência do RR e isto está associado à variedade da população, ao tratamento empregado e à definição do RR (3). Entretanto, apesar destas diferenças, alguns fatores estão repetidamente associados a maior probabilidade de melhora da FEVE como :

  • sexo feminino
  • etiologias não isquêmicas
  • menor duração da ICFER
  • remodelamento menos severo inicialmente (5).

A evolução do tratamento da IC ao longo dos anos foi o fator determinante por tornar mais comum na prática clínica a presença desse fenótipo da doença (1, 7). Pacientes com RR têm melhores desfechos clínicos comparados aos pacientes que não o apresentaram. Diversas coortes mostram uma sobrevida em 5 anos entre 80 a 90%, comparada com 65 a 75% em pacientes com manutenção da disfunção ventricular (8-10). A melhora da FEVE está independentemente associada a menores taxas de mortalidade, internações e transplante cardíaco (11, 12).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. Saraon T, Katz SD. Reverse Remodeling in Systolic Heart Failure. Cardiol Rev. 2015;23(4):173-81.
  2. Yancy CW, Jessup M, Bozkurt B, Butler J, Casey DE, Drazner MH, et al. 2013 ACCF/AHA guideline for the management of heart failure: a report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. J Am Coll Cardiol. 2013;62(16):e147-239.
  3. Stevenson LW. Heart failure with better ejection fraction: a modern diagnosis. Circulation. 2014;129(23):2364-7.
  4. Givertz MM, Mann DL. Epidemiology and natural history of recovery of left ventricular function in recent onset dilated cardiomyopathies. Curr Heart Fail Rep. 2013;10(4):321-30.
  5. Gulati G, Udelson JE. Heart Failure With Improved Ejection Fraction: Is it Possible to Escape One's Past? JACC Heart Fail. 2018;6(9):725-33.
  6. Florea VG, Rector TS, Anand IS, Cohn JN. Heart Failure With Improved Ejection Fraction: Clinical Characteristics, Correlates of Recovery, and Survival: Results From the Valsartan Heart Failure Trial. Circ Heart Fail. 2016;9(7).
  7. Kim GH, Uriel N, Burkhoff D. Reverse remodelling and myocardial recovery in heart failure. Nat Rev Cardiol. 2018;15(2):83-96.
  8. Nadruz W, West E, Santos M, Skali H, Groarke JD, Forman DE, et al. Heart Failure and Midrange Ejection Fraction: Implications of Recovered Ejection Fraction for Exercise Tolerance and Outcomes. Circ Heart Fail. 2016;9(4):e002826.
  9. de Groote P, Fertin M, Duva Pentiah A, Goéminne C, Lamblin N, Bauters C. Long-term functional and clinical follow-up of patients with heart failure with recovered left ventricular ejection fraction after β-blocker therapy. Circ Heart Fail. 2014;7(3):434-9.
  10. Lupón J, Díez-López C, de Antonio M, Domingo M, Zamora E, Moliner P, et al. Recovered heart failure with reduced ejection fraction and outcomes: a prospective study. Eur J Heart Fail. 2017;19(12):1615-23.
  11. Merlo M, Pyxaras SA, Pinamonti B, Barbati G, Di Lenarda A, Sinagra G. Prevalence and prognostic significance of left ventricular reverse remodeling in dilated cardiomyopathy receiving tailored medical treatment. J Am Coll Cardiol. 2011;57(13):1468-76.
  12. Kalogeropoulos AP, Fonarow GC, Georgiopoulou V, Burkman G, Siwamogsatham S, Patel A, et al. Characteristics and Outcomes of Adult Outpatients With Heart Failure and Improved or Recovered Ejection Fraction. JAMA Cardiol. 2016;1(5):510-8.