Reações Hansênicas: Como Se Manifestam?

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São manifestações clínicas principalmente cutâneas e neurais decorrentes de alterações inflamatórias agudas, consequentes a mecanismos imunológicos num paciente com hanseníase atual ou prévia. Podem ocorrer antes, durante (30%) ou após o tratamento da hanseníase. São classificadas em reação tipo 1 (também denominada reação reversa) e reação tipo 2.

As reações do tipo 1 podem resultar da melhora ou piora da hanseníase, ao longo do espectro bordeline. Por isso podem surgir tanto em casos classificados como paucibacilares como nos multibacilares As reações tipo 1, com melhora do quadro clínico, surge após a instituição do tratamento quimioterápico, evoluindo para um polo tuberculóide. Já a reação de piora, surge na ausência de tratamento, evoluindo com agravamento da doença para o polo virchowiano. Ambas caracterizam-se por uma reação de hipersensibilidade celular, que corresponde ao tipo III e IV da classificação de Gel e Coombs.

A reação tipo 2 é considerada uma síndrome de imunocomplexos, sendo mais comum nos multibacilares, principalmente os virchowianos e, com menor frequência, nos borderlines virchowianos.

Os fatores precipitantes para as reações são: gravidez, parto, puberdade, quadros febris, coinfecções, alcoolismo, parasitose intestinal, infecções dentárias, vacinas, cirurgias, estresse físico e psicológico, medicamento ( iodeto de potássio e brometos). Alguns estudos demonstram que há risco aumentado para desenvolver reações hansênicas em pacientes com saúde oral comprometida, especialmente na presença de cáries, periodontite, sangramento gengival, cálculo dentário e bolsa periodontal.

Durante a reação tipo1, podem aparecer novas lesões e aquelas preexistentes ficam mais edemaciadas, eritematosas ou violáceas, podendo evoluir para úlcera ou descamação. Nas lesões, a sensibilidade geralmente está exacerbada. As placas cutâneas sobrepostas aos troncos nervosos ou áreas perioculares indicam maior gravidade da reação hansênica. Pode haver edema de mãos e pés. As lesões neurais podem ser muito graves e levar ao aparecimento súbito mão em garra, pé caído, pé em garra, mal perfurante plantar , lagoftalmo e outros agravos. As manifestações sistêmicas como febre , mal-estar e anorexia também pode ser observadas.

Na reação tipo 2, a manifestação clínica mais comum é o eritema nodoso hansênico, e em alguns casos, apresentar-se idêntico ao eritema polimorfo. Pode evoluir de forma intermitente ou contínua. Em geral, as lesões surgem com pápulas, nódulos e placas, eritematosa ou eritematoviolácea, dolorosas ao toque, distribuídas simetricamente face, tronco e membros. As lesões preexistentes permanecem inalteradas. Febre, mialgia, hepatite , linfonodomegalia, edema, artralgia, artrite , sinovite, dactilite, dores ósseas, uveíte, TVP, TEP, neurites, laringite, faringite, epistaxe , orquite e lesão renal por amiloidose ou depósito de imunocomplexo podem ser vistos. Alterações laboratoriais como: anemia, leucocitose, elevação de PCR, bilirrubinas , transaminases, proteinúria e hematúria ocorrem em paralelo.

Em geral, as reações constituem situações de urgência e necessitam de atenção e tratamento imediato, evitando-se assim a instalação de lesões neurais e em outros órgãos, muitas vezes irreversíveis. É importante orientar os pacientes, já ao diagnóstico e no início do tratamento, sobre os quadros reacionais, pois o mesmo pode abandonar o tratamento achando que os medicamentos estão fazendo mal. Além disso, explicar que existem casos em que a reação pode ocorrer após finalizar o tratamento e que isso não significa insucesso do tratamento.

Referências:

Talharim S, Penha GO, Gonçalves HS, Oliveira MLW. Reação hansênica . In: Penna G0;Gonçalves HS; Lastória JC; Machado PRL; Talharim S. Hanseníase. 5. Ed. Manaus:Dilivros,2015. P.45-60

Teixeira MAG, Silveira VM da, França ER de. Características epidemiológicas e clínicas das reações hansênicas em indivíduos paucibacilares e multibacilares, atendidos em dois centros de referência para hanseníase, na Cidade de Recife, Estado de Pernambuco. Rev Soc Bras Med Trop [Internet]. 2010May;43(Rev. Soc. Bras. Med. Trop., 2010 43(3)). Available from: https://doi.org/10.1590/S0037-86822010000300015

Brasil. Ministério da saúde. PORTARIA SCTIE/MS Nº 67, DE 7 DE JULHO DE 2022. Diário Oficial,2022;6.5: 15-21